Radicais brancos prometem reação

Grupos armados não aceitam fim do apartheid

Eles representam menos de um sétimo da população, estão divididos, talvez um pouco atordoados com a ruptura da ordem segregacionista imposta pelo apartheid. Mas uma parcela dos brancos sul-africanos está armada até os dentes, e pode fazer enorme estrago se o plebiscito aprovar as reformas do presidente Frederik de Klerk. Somente entre a extrema direita branca, o pesquisador Jim Booyse catalogou 97 facções.

Todos esses grupos estão de acordo num ponto básico: os brancos sul-africanos não devem conviver de igual para igual com os negros. Entre as organizações brancas radicais, a mais conhecida é o Movimento de Resistência Africânder (AWB), liderado pelo neonazista Eugene Terreblanche.

Fundado em 1979, e financiado sobretudo pelos ricos proprietários de terras, o AWB defende a criação de um país exclusivamente africânder (ou de brancos descendentes dos pioneiros holandeses).

O grupo treina para a luta armada e realiza atentados contra líderes negros e brancos reformistas. Em suas manifestações, vestidos de uniformes cáqui, seus militantes exibem fuzis e um emblema que parece uma suástica de três pernas. A partir de agosto de 1990, quando a luta entre zulus e cossas, antes restrita à província de Natal, chegou ao Transvaal, onde estão Pretória e Johannesburgo, a extrema direita branca foi acusada de incitar o confronto.

Moradores das cidades-dormitórios afirmaram várias vezes ter visto brancos abrindo fogo com metralhadoras no meio da multidão de negros. A polícia confirmou a participação de extremistas brancos em alguns distúrbios. Esse tipo de ação desestabilizadora, juntamente com os atentados, poderia ser lançado em maior escala por grupos como o AWB, o Movimento de Liberação dos Brancos, os Lobos Brancos e o Exército de Libertação dos Brancos, entre os mais conhecidos.

O AWB é considerado uma espécie de braço armado do Partido Conservador (CP), que defende a separação do país em cantões para cada grupo racial, declara-se contra a violência mas diz que compreende os brancos que a ela recorrem. Liderado por Andries Treurnicht, o CP surgiu como dissidência do Partido Nacional em 1982.

Mas quem começa lentamente a realizar o sonho de um Estado só para brancos é a Guarda Popular Africânder, criada em 1984 pelo teólogo Carel Boshoff. Tentando reviver o pioneirismo dos primeiros colonos holandeses, o grupo comprou uma área às margens do Rio Orange, onde pretende instalar Orânia, terra prometida africânder.

Cerca de 500 mestiços já foram expulsos da área, pela qual os negros só poderão passar de carro. O governo descarta a possibilidade da autorizar o enclave.

“Consciência liberal” – Foi o próprio Partido Nacional, no poder desde 1948, que desenvolveu o conceito de apartheid (separação), institucionalizando-o sistematicamente em leis criadas a partir do início da década do 50. Sob a liderança do presidente Frederik de Klerk, encarregou-se de desmontá-lo.

No espectro político da minoria branca (5 dos 38 milhões de sul-africanos), resta ainda o Partido Democrático, de Zach de Beer, fundado em 1989, e considerado a “consciência liberal” da África do Sul. Defende o total desmantelamento das estruturas racistas e a negociação com todos os setores.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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