Em meio à maioria negra, chineses chamam a atenção

Ao contrário da África do Sul, o Lesoto é um país etnicamente uniforme.

MASERU – Sua população é quase exclusivamente composta dos basothos, povo de origem bantu (vindo há 2.500 anos do norte da África, assim como zulus, cossas e outras etnias negras), que fala sesotho, usa cobertor de lã como sobretudo e um chapéu em forma de cabana e bebe joala, cerveja de sorgo fermentado. Praticamente não há negros de outras etnias nem brancos. Essa homogeneidade é quebrada pela exótica presença de uma numerosa comunidade asiática, principalmente de chineses e, em menor medida, de filipinos.

“É muito estranho ver esses chineses aqui”, admite uma funcionária do único hotel de cinco estrelas do país, o Lesotho Sun. Em vez do inglês, a língua difundida pelos colonizadores, os chineses em geral aprendem diretamente o basotho, o que os torna ainda mais exóticos. Sua atuação não é nada periférica. Atraídos pela mão-de-obra barata, eles estão no centro da indústria têxtil do Lesoto, que exporta para os Estados Unidos e inclui uma fábrica da Levis e outra da Dockers, além de outras manufaturas, como de artigos esportivos, botas, rodas de veículos e papel higiênico.

“Eu gosto de viver aqui porque é onde tenho negócios e ganho dinheiro”, resume o pragmático Chen Wenbin, de 29 anos, dono de quatro lojas no bairro de comércio popular da Catedral, na capital do Lesoto, Maseru. Chen preside a associação de empresários de Fuqing, a cidade da província de Fujian de onde veio há 9 anos, depois do serviço militar, seguindo seu pai. A associação tem 1.500 membros. Chen nem ninguém sabe dizer quantos chineses vivem no Lesoto.

Chen fala basotho, outros sete membros de sua família estão no Lesoto e ele não tem planos de mudar do país, mas enviará seus filhos de 6 anos, 4 e 1 para estudar em Fuqing. Por isso só sua mãe ficou na China, para onde ele viaja duas vezes por ano. “Eu gosto da China”, confessa sua irmã Nihua, de 17 anos, há 3 meses no Lesoto, com um tradutor portátil sobre o balcão.

“Eu mesmo me pergunto por que estou aqui”, sorri a filipina Carmela Castillo, de 55 anos, há 21 no Lesoto. Dona de uma estamparia no centro de Maseru, ela conta que veio seguindo o seu tio e acabou ficando. “Eu gosto do país e do povo”, elogia Carmela, que nunca aprendeu basotho e convive basicamente com a comunidade de cerca de 200 filipinos. “Admiro os chineses porque eles aprendem a língua e assim ninguém os trapaceia.”

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