ONG capacita jovens na maior favela do mundo

A agitação de Lagos atrai milhares de pessoas pela oportunidade de renda, mas também cobra um preço alto. Aos 20 anos, Michael Akposionu, há 3 vendendo CDs nas ruas, está cansado

LAGOS – “Esse trabalho me estressa”, diz o jovem da etnia ibo (cujos integrantes são considerados mais robustos que os iorubás, por exemplo). Com curso secundário, ele ganha R$ 202 por mês, trabalhando nas ruas das 8 às 18 horas. “É demais para a minha saúde”, afirma.

Akposionu candidatou-se a uma das quatro vagas de vendedor de cosméticos, oferecidas pelo Projeto Ajegunle.org, destinado a capacitar jovens de uma das maiores favelas do mundo, com 3 milhões de moradores. Dirigida por dois engenheiros eletrônicos, a ONG ensina os jovens de Ajegunle a usar computadores e a montar planos de negócios, e ainda busca estágios para eles em grandes empresas.

Se Akposionu for selecionado, receberá uma motocicleta e uma sacola de produtos da linha Tura, da inglesa Lornamead, para vender de porta em porta. “É impressionante que ele ainda queira trabalhar”, anima-se Gbenga Sesan, de 30 anos, diretor da ONG. “Na idade dele, seus amigos que deixaram a escola e não conseguiram emprego vão ganhar dinheiro com crimes na internet.”

Boa parte das falcatruas distribuídas por e-mail pelo mundo – como “gerentes de banco” propondo investimentos mirabolantes com heranças sem dono – é originária da Nigéria. “As pessoas de fora pensam que todo mundo em Ajegunle é marginal. Queremos dar vazão ao empreendedorismo desses jovens”, aposta Ugochukwu Nwosu, de 27 anos, gerente do programa, que cresceu aprendendo com o pai, empresário em diversos ramos.

“No escritório, ficaram surpresos de ver que tem gente decente em Ajegunle”, conta Abazu Debby Chidimma, de 22 anos, estagiária na Lornamead.

O projeto não tem patrocinadores, mas oito parceiros, entre eles as empresas DHL e Virgin Atlantic e a Embaixada Britânica, para os quais encaminha estagiários, que recebem R$ 162 de ajuda de custo. Depois de empregados ou de abrir o próprio negócio, os beneficiados devem pagar 10% de sua renda durante dois anos ao projeto, além de treinar outros cinco jovens. “Queremos multiplicar a capacitação por toda Ajegunle”, dizem Sesan e Nwosu.

Até aqui, 106 jovens já receberam treinamento, e hoje se dedicam às mais variadas atividades. Nathanael Osiri, de 24 anos, ganha R$ 203 por mês com uma fábrica caseira de desinfetantes. Vivian Felix, de 20, fatura R$ 108 com suas bijuterias. Adefunke Joan Alao, de 18, começou vendendo cartões de chamada; agora oferece linhas telefônicas e tira R$ 271 por mês.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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