Apesar de anúncio da ONU, buscas continuam e acham sobrevivente

Onze dias depois do terremoto, homem é encontrado vivo dentro de frutaria em Porto Príncipe

PORTO PRÍNCIPE – Onze dias depois do terremoto que devastou Porto Príncipe e outras cidades haitianas, um sobrevivente em bom estado de saúde foi encontrado entre os escombros de uma frutaria. O homem estava sendo socorrido ontem à tarde (início da noite no Brasil) por uma equipe de resgate francesa, que abriu um túnel para fazer chegar água até ele. O resgate ocorreu em meio a uma controvérsia entre o governo haitiano e a ONU sobre a suspensão das operações de salvamento.

O governo haitiano desmentiu a notícia de que teria pedido à ONU para pôr fim às operações. Mas o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) confirmou o pedido do governo, acrescentando que as operações foram suspensas às 17 horas de sexta-feira e que apenas três equipes ficarão de prontidão para o caso de “milagres” como os três sobreviventes encontrados anteontem.

“Essa informação é falsa”, disse ontem ao Estado Volcy Assad, porta-voz do presidente René Préval, sobre o pedido de suspensão dos resgates. “O presidente nunca disse isso.” Já o porta-voz da Ocha no Haiti, Nicholas Reader, reiterou que o governo haitiano anunciou, sim, o fim das operações de resgate. E explicou que as operações entraram ontem em nova fase, saindo do resgate de sobreviventes para a retirada de corpos e remoção dos escombros para a reconstrução do país.

“Duas equipes do Reino Unido e uma da Grécia, que chegou ontem (sexta-feira), continuarão no país, com cães e equipamentos, para responder a sinais de vida, retirar corpos e erguer escombros”, informou Reader ao Estado. “À medida que o tempo passa, as chances ficam menores, mas ainda há milagres, como os de ontem (sexta-feira).”

Uma mulher de 84 anos foi arrancada dos escombros pelos parentes com as mãos; outra, de 69, salva por bombeiros americanos; e uma equipe de resgate israelense retirou um homem de 22 anos das ruínas de um prédio de três andares.

A informação de que o governo havia feito o pedido foi dada na sexta-feira em Genebra por Elisabeth Byr, porta-voz da Ocha em Genebra. Mas no mesmo dia à tarde tinha sido negada pela ministra da Comunicação do Haiti, Marie Laurence Joselin Lasègue: “Ainda não vamos suspender os resgates porque estão sendo encontrados sobreviventes”, disse ela ao Estado.

É possível que o governo haitiano tenha feito o pedido e voltado atrás depois dos novos resgates. O presidente René Préval tem manifestado sua preocupação com o risco de doenças causadas por tantos corpos enterrados. Préval disse na sexta-feira que era preciso levar os desabrigados para novos acampamentos que estão sendo construídos fora de Porto Príncipe antes que comece a chover, o que aumentará o risco de doenças.

Os bombeiros brasileiros suspenderam as buscas no Hotel Christopher, e mantinham-se ontem de prontidão na base do batalhão brasileiro da ONU em Porto Príncipe. Seu trabalho, como o de outros grupos, não está sob a coordenação da Ocha. Várias equipes já deixaram o Haiti.

Até ontem, haviam sido resgatadas pelo menos 132 pessoas com vida dos escombros. Mais de 100 mil corpos foram retirados. O governo haitiano estima que, até o fim da semana, será confirmada a morte de 150 mil pessoas. O general americano Ken Keen, que comanda as forças especiais americanas no Haiti, acredita que a cifra pode chegar a 200 mil.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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