Novo tremor abala o Haiti e leva pânico à capital e ao interior

Apesar do susto, réplica de 5,9 graus na escala Richter do terremoto do dia 12 não causa novas vítimas

PETIT-GOÂVE, Haiti – Depois de oito dias de espera aflitiva, ela finalmente veio. A réplica do terremoto do dia 12 no Haiti, anunciada pelos especialistas, ocorreu ontem pouco depois das 6h, atingindo 6,1 ponto na escala Richter, um ponto a menos que o primeiro. O tremor, que como o anterior durou alguns segundos, acabou de derrubar muitas das construções já semidestruídas e provocou pânico em Porto Príncipe. Como da primeira vez, o epicentro também ficou a sudoeste da capital, mas mais distante, a 60 quilômetros, na pequena cidade de Petit-Goâve.

O terremoto derrubou oito casas na área, mas não há notícias de feridos. A maioria das pessoas nas regiões mais afetadas que ainda tem casas está dormindo nas ruas e praças, com medo de novos tremores. O policial César Henry Robert contou que estava do lado de fora da delegacia de Petit-Goâve, falando no celular, quando a terra começou a tremer. “Saí correndo para longe da delegacia”, contou ele sorrindo. “Foi muito forte.” Mesmo assim, não tão forte quanto o do dia 12, que, embora tenha sido a 45 quilômetros de Petit-Goâve, no bairro de Carrefour, periferia de Porto Príncipe, atingiu 7,1 na escala Richter.

“Minha casa acabou de cair hoje’, disse a costureira Benite Milfort, uma das abrigadas em cerca de 20 tendas circundadas por casas destruídas sobre um morro no bairro de Cubidon, na periferia de Petit-Goâve. Ela morava na casa com quatro primos e sobrinhos, e perdeu tudo o que tinha. “Não consegui nem retirar minhas roupas”, disse Benite, cuja casa formou uma massa compacta de lajes superpostas. “Não recebemos nenhuma ajuda. Ninguém veio aqui, nem jornalistas.”

A queixa foi repetida pelas outras famílias de desabrigados, em geral formadas por homens lavradores, que trabalham nas fazendas da região, e mulheres vendedoras ambulantes na Rodovia Nacional Número 2, que corta a cidade. Eles disseram que estão se alimentando de bananas e mangas, embora as fazendas produzam também arroz e milho. À pergunta sobre se tinha esperança de receber ajuda, Senise Jean-Baptiste, que vende na beira da estrada uma espécie de pastel chamado fritaille, respondeu: “Não temos escolha a não ser esperar.”

A 30 km dali, na cidadezinha de Cassegna, cerca de 80 fuzileiros navais americanos cercaram um terreno, onde um helicóptero pousou com garrafas de água e caixas com arroz pronto para comer, e distribuíram para centenas de pessoas. Os americanos estão intensificando essas ações-relâmpago. Na véspera, eles pousaram com ajuda e equipamentos no gramado do palácio presidencial, destruído pelo terremoto, no centro de Porto Príncipe. Mas ontem não estavam lá. “Eles só pousam e vão embora, quando precisam”, explicou um policial do lado de dentro das grades.

O taxista Jeansly Israel perdeu a mulher e dois filhos de 6 e de 8 anos no desabamento de sua casa no dia 12, e feriu-se na bacia e nos pés. Deitado numa tenda ao lado de seu filho Lubein, de 10 anos, o único que restou, Israel disse que Petit-Goâve não tem hospital, mas apenas um médico, que no entanto não dispõe de medicamentos. O terremoto não fez mais vítimas em Petit-Goave por ser uma população rural e de vendedores de estrada, e a maioria estava na rua no momento do tremor, ocorrido às 15h46 do dia 12. Na casa do lavrador Frisner Batelo, onde morava um casal e três filhos, morreu apenas um bebê de dois meses, que estava sozinho.

Na Rodovia Nacional Número 2, as fendas abertas no asfalto no dia 12 se alargaram, algumas duplicando de largura. Mas isso aconteceu ao longo da semana que se seguiu ao terremoto, contaram moradores. Todos os dias, ocorrem tremores de menor intensidade em Porto Príncipe. Na terça-feira, quando caminhava com o repórter do Estado sobre os escombros do Hotel Montana, um bombeiro brasileiro parou e disse, olhando para rachaduras no concreto: “Essas fissuras estavam menores. Isso não foi rompido por máquina. Deu outro sismo aqui.”

Os tremores representam alto risco para as equipes de resgate que ainda vasculham os escombros. No horário do abalo de ontem, os bombeiros brasileiros ainda não tinham voltado para dentro dos escombros, e as equipes trabalhavam apenas com máquinas.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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