Situação sanitária na missão começa a se agravar

Há 1 suspeita de malária e houve 20 casos de diarreia; água é analisada por possível contaminação

TEGUCIGALPA – Um jovem hondurenho pertencente ao grupo de apoio ao presidente deposto Manuel Zelaya, abrigado na embaixada do Brasil em Honduras, está sendo tratado de malária. O jovem não quis sair da embaixada – cercada de policiais e soldados do Exército, prontos para prender os que considerarem que violaram a lei.

O médico Marco Girón, que está dentro da embaixada, não quis que fosse feito exame de gota espessa do paciente, por não confiar no resultado. A seu pedido, o brasileiro Sérgio Guimarães, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Honduras, levou ontem comprimidos de cloroquina para tratar o rapaz – além de xarope e loção para sarna, para outros ocupantes da casa. O rapaz vem do leste de Honduras, onde a malária é endêmica.

Girón encomendou também um aparelho para examinar os olhos, um medidor de pressão arterial e uma espátula para exame de garganta. Mas os policiais não deixaram passar: “Se tem gente que necessita operar, que saia de lá.”

Guimarães tentou entrar também com repelentes de mosquitos, mas suas embalagens de aerossol, consideradas uma ameaça à segurança, foram barradas. Um funcionário do Unicef teve de ir atrás de repelentes em embalagens de plástico, que foram liberados.

A embaixada está infestada de mosquitos, por causa do acúmulo de lixo produzido por seus 63 ocupantes – 3 dos quais deixaram ontem a casa –, que não era recolhido havia vários dias. O prefeito de Tegucigalpa, Ricardo Álvarez, que apoia o presidente de facto Roberto Micheletti, atendeu ontem a um pedido de Guimarães, e mandou recolher o lixo.

Desconfiada de que a água entregue pelo Corpo de Bombeiros para suprir o excesso de demanda possa estar contaminada, a promotora de Direitos Humanos Sandra Ponce pediu na sexta-feira ao representante do Unicef que mandasse analisá-la num laboratório. O resultado deve sair hoje.

Na manhã de sexta-feira, 20 pessoas na casa sofreram de diarreia e cólicas estomacais. A principal suspeita recaiu sobre o frango com purê servido na véspera. A refeição chegou às 8 horas, mas ficou retida pela segurança, sob o sol, até as 11 horas, quando liberaram a entrada do café da manhã. Os ocupantes da embaixada tomaram então o café da manhã e só almoçaram por volta de 16 horas. A comida continuou sem refrigeração, e suspeita-se de que quando foi consumida estivesse estragada. Quatro pessoas voltaram a ter diarreia ontem.

A entrega da comida, roupas, medicamentos e outros suprimentos está a cargo da ONU e do Comitê de Direitos Humanos de Honduras. Entre as roupas enviadas pelos filhos a Zelaya, havia três modems para conexão na internet, que foram vetados pela polícia. Colchonetes, livros, aparelhos de rádio e passatempos – como uma bola de futebol – também foram barrados.

Guimarães levou ontem fotos do neto de Zelaya, que nasceu quarta-feira e o presidente deposto e sua mulher ainda não conhecem. Mas Xiomara, a mulher de Zelaya, não veio até o portão do sobrado, como faz às vezes quando Guimarães faz suas entregas diárias. Como queria entregar as fotos pessoalmente, ele voltou com elas.

Dez mulheres segurando uma bandeira de Honduras e com as bocas cobertas por fitas adesivas postaram-se ontem na rua que dá o principal acesso à embaixada, durante cerca de uma hora, antes de serem retiradas pela polícia.

Em torno de 50 manifestantes também passaram na frente, vindo de um protesto realizado diante da embaixada dos EUA, que reuniu cerca de 150 de pessoas, para lembrar os 100 dias da destituição de Zelaya, ocorrida em 28 de junho.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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