Classe social determina, em grande parte, inclinação eleitoral

Economia aparece como uma das principais preocupações da campanha; mais ricos preferem Romney

SUMMERLIN, NEVADA – Um dos componentes mais notáveis da polarização política nos Estados Unidos é o da classe social. Nas cidades pequenas e nos bairros ricos, os moradores votam em massa no candidato republicano. É o caso de Summerlin, um aglomerado de condomínios e shopping centers elegantes a noroeste de Las Vegas, e de Bradenton, na costa oeste da Flórida, onde as profissões dos entrevistados já definem suas preocupações e visão da economia.

“Vou votar em Mitt Romney, pois Barack Obama é o presidente mais incompetente e incapaz que já tivemos”, critica Michael Davis, de 66 anos, instrutor de golfe em Summerlin. “Ele não entende de economia nem de política externa. É apenas bom de campanha. Fica viajando. Não está nem sequer fazendo seu trabalho.” Davis conta que votou em John McCain em 2008 porque já não confiava em Obama. “Não sabíamos nada sobre ele: que cursos fez, que notas tirou. Só sabíamos de seu trabalho socialista de esquerda de organização de comunidade.”

William Sawdey, de 55 anos, é dono de uma empresa de manutenção de piscinas. “Não acho que Obama sabe o que está fazendo”, opina Sawdey. “Não gosto muito de Romney. Mas pelo menos ele é empresário.” Sawdey conta que seus negócios melhoraram durante o governo Obama. “Mas os de mais ninguém melhoraram. Não sei o que estou fazendo certo. Fico com o crédito para mim. Mas a economia está difícil. Tudo o que faço é mais difícil do que era antes.”

Mary Kelly, de 47 anos, dona de uma loja de decoração, e Dorme Kalb, de 49 anos, cujo marido é paisagista, estão muito descontentes. “A economia caiu vertiginosamente nos primeiros dois anos e meio (do governo Obama)”, recorda Dorme.

“Fomos fortemente prejudicadas pelo fechamento de empresas”, acrescenta Mary. “Se as pessoas não têm onde morar certamente não vão fazer paisagismo em seu jardim nem comprar na minha loja.”

À pergunta sobre se responsabilizam o governo anterior, do presidente George W. Bush, pela crise, Mary responde: “A economia estava bem e quando ela está bem você não precisa pensar nela. Não sei dizer se parte da responsabilidade foi do presidente Bush, mas Obama certamente não fez nada para melhorá-la.”

Warren Klaus, de 78 anos, é dono da Dockside Marine Services, que conserta lanchas em Bradenton, na Flórida. Ele lembra que, quando Obama assumiu, o galão da gasolina E93, o tipo usado nas lanchas, custava US$ 1,87. “Podíamos ir de barco para Key West a hora que quiséssemos”, recorda Klaus, referindo-se a uma ilha de exclusivas marinas e balneários da Flórida. Durante a gestão de Obama, o galão subiu para US$ 4,09 e agora ninguém mais utiliza suas lanchas, queixa-se ele.

Em razão disso, muitas empresas no setor de barcos fecharam e 300 mil pessoas perderam o emprego, critica Klaus, que antes da crise tinha cinco empregados e agora só tem um. Durante o debate de terça-feira, Obama alegou que, quando assumiu, a gasolina era barata porque “a economia estava à beira do colapso com as políticas que Romney defende agora”.

“Romney vai retomar a construção do gasoduto Keystone do Canadá, que Obama parou em Minnesota”, espera Klaus. “Ele prevê que o galão custará US$ 2,25 durante todo o mandato dele e vai empregar muita gente. Não teremos mais de comprar petróleo de outros países. Todo mundo com quem eu falo quer mudança.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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