Desilusão ajuda Obama em Ohio

Mary Handson é filiada ao Partido Republicano. Em 2000, ela votou em John McCain nas primárias do partido, vencidas pelo presidente George W. Bush.

COLOMBUS – Agora, Mary tem uma pequena faixa de Barack Obama no jardim de sua casa, no bairro de classe média baixa de North Lindon, em Columbus, capital de Ohio. “Obama é muito inteligente e pode fazer muito pelas pessoas no mundo todo”, elogia Mary, de 58 anos, que trabalha com o detector de metais de um tribunal. “Nosso país está ferrado. Os empregos estão desaparecendo.”

“Votei em Bush nas duas eleições, e estou extremamente decepcionado”, diz Tom Morris, de 35 anos, analista de crédito do Banco Morgan Stanley. “Você não faz idéia de quantos clientes insatisfeitos eu tenho.” Ao contrário de Mary, no entanto, Morris não sabe em quem votar. “Os democratas querem socializar o sistema, e os republicanos são frouxos demais”, diz ele. “Acho bom tirar as coisas das mãos do governo, mas é preciso alguma regulação. Tanto os democratas quanto os republicanos falharam na crise das hipotecas.”

A desilusão de Mary e de Morris sintetiza as dificuldades de McCain em antigos redutos conservadores como Ohio, um Estado carregado de simbolismo. Segundo consta, nenhum presidente republicano foi eleito sem ter vencido em Ohio. Em 2000, Bush derrotou Al Gore no Estado por 50% a 46%. Em 2004, venceu John Kerry por 51% a 48%, numa votação marcada por denúncias de irregularidades quanto à organização, a cargo do governo estadual republicano. Em redutos democratas, faltavam máquinas de votação e as filas eram imensas, enquanto o contrário ocorria nos distritos majoritariamente republicanos.

“Hesitei em votar, porque da outra vez votei em Kerry e fui roubado”, lembra Nicholas McLin, um negro de 28 anos que trabalha numa firma de aquecedores e votou em Obama. “Se eu conseguir uma diminuição de imposto, vai ser maravilhoso.” Jeff Manahan, um loiro de 46 anos que trabalha numa empresa de jardinagem, também tem receio de problemas no sistema de votação. “Acho que Obama pode dar jeito na economia”, diz ele. “Sempre fui democrata. Mas não concordo com a idéia de ‘distribuir a riqueza’. Acho que cada um deve trabalhar para realizar seus sonhos.”

Desta vez, quatro pesquisas realizadas nos últimos dias dão vantagem de 4 pontos para Obama em Ohio, e uma de 5. A importância da vitória em Ohio levou McCain duas vezes ao Estado na semana passada – na segunda e na quinta-feira. Seus apelos encontram repercussão nas áreas de classe alta do oeste de Columbus, como o distrito de Dublin. “Votei em McCain”, disse o químico Gary Carlson, de 55 anos. “Acho que Bush não fez um bom trabalho, mas sou republicano e conservador, tanto no econômico quanto no social”, explicou Carlson, enquanto passeava com seu cachorro num fim de tarde gélido. “Acredito em governo menor, em menos impostos.”

“McCain tem muita experiência, foi prisioneiro de guerra e compreende as necessidades dos veteranos”, disse Helen Sprankel, de 85 anos, cujo marido foi capitão da Força Aérea. “Obama não tem experiência. Não é porque seja negro”, explicou ela. Ser parente de militar não garante voto para McCain, no entanto. “Acho que Obama tem as melhores idéias sobre temas militares e sobre como melhorar a posição dos Estados Unidos no mundo”, opina Kathy Jones, professora aposentada de 55 anos, cujo filho de 21, sargento do Exército, está voltando depois de 15 meses no Iraque.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*