Discurso de Obama abre fase das propostas concretas de governo

Principal evento da Convenção Democrata, fala de senador dirige-se também a pôr fim à divisão do partido

DENVER  – O senador Barack Obama passou o dia ontem em Denver preparando-se para o que era considerado o discurso mais importante de sua carreira – a aceitação de sua nomeação como candidato democrata a presidente, decidida por aclamação, na véspera, durante a convenção do partido. Durante todo o dia, milhares de delegados, militantes e jornalistas se dirigiram para o estádio do time de futebol americano Denver Broncos, com capacidade para 75 mil pessoas, para ouvir o discurso, previsto entre 20h e 21h locais (23h e 0h em Brasília). 

A expectativa era de que Obama apresentasse propostas concretas de governo, depois de uma campanha nas primárias concentrada numa mensagem vaga de mudança. Obama também tinha diante de si o desafio de unir o partido, profundamente dividido pela disputa feroz entre ele e a senadora Hillary Clinton pela candidatura. Na noite de terça-feira, Hillary fez um eloqüente discurso de apoio à candidatura de Obama e de chamado à unidade do partido para enfrentar o republicano John McCain – cuja candidatura foi definida nas primárias bem antes que a de Obama – na eleição de 4 de novembro.

Mesmo assim, muitos delegados resistiram ao apelo de Hillary para que apoiassem Obama. Na tarde de quarta-feira, durante a votação para o candidato democrata, quando Obama tinha 1.549 votos e Hillary, 341, a senadora interveio e pediu que seu adversário fosse nomeado por aclamação.

O gesto de Hillary foi seguido por um vigoroso discurso de apoio de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, que tivera atritos com Obama durante as primárias, chegando a ser acusado pelo candidato negro de tentar trazer o tema racial para a campanha. No dia 6, a uma pergunta sobre se Obama estava pronto para ser presidente, Clinton respondeu: “Você pode argumentar que ninguém está pronto para ser presidente.”

Na noite de quarta-feira, o ex-presidente demonstrou ter mudado inteiramente de opinião. Clinton lembrou no discurso que, quando foi candidato a presidente pela primeira vez, em 1992, disseram que ele era “jovem e inexperiente demais” para ser comandante-em-chefe das Forças Armadas. “Isso soa familiar?”, perguntou Clinton, referindo-se a críticas semelhantes dirigidas a Obama, de 47 anos, em seu primeiro mandato no Senado Federal. “Não funcionou em 1992, porque estávamos do lado certo da história. E não funcionará em 2008, porque Barack Obama está do lado certo da história.”

Clinton ressaltou que falava na condição de quem ocupou o cargo – o único democrata vivo nessa condição, além de Jimmy Carter. “Tudo que aprendi nos meus oito anos de presidente e no trabalho que fiz desde então, na América e no mundo, convenceu-me de que Barack Obama é o homem para este trabalho”, disse Clinton, enquanto a platéia de 20 mil pessoas do ginásio Pepsi Center, sede da convenção, agitava bandeiras dos Estados Unidos (a organização da convenção distribui cartazes de acordo com cada circunstância).

Clinton também fez um elogio emocionado do candidato a vice na chapa de Obama: “Eu amo Joe Biden, e a América o amará também”, disse ele, logo no começo do discurso. A declaração é significativa, na medida em que Hillary acalentou a expectativa de ser a vice de Obama, depois de desistir da disputa das primárias, no dia 7 de junho. A senadora havia então obtido 1.896 delegados, enquanto Obama já tinha 2.201 (são necessários 2.210).

Biden, também senador, discursou mais tarde, e retribuiu os elogios a Clinton e a Hillary – que chamou de “uma das grandes líderes do partido, que fez história e continuará a fazer”. Com 65 anos, Biden foi indicado vice na chapa de Obama com o evidente propósito de compensar a falta de experiência do primeiro candidato a presidente negro de um grande partido na história dos EUA. Ele é senador há 36 anos e membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado há duas décadas.

Numa resposta indireta a essa deficiência de Obama, Biden justificou: “Acredito que a medida de um homem não é só a estrada que ele percorreu; são as escolhas que ele fez ao longo do caminho.”

E lembrou que Obama, depois de se formar em direito na Universidade de Columbia (Nova York), em 1983, em vez de seguir carreira em Wall Street, foi para Chicago trabalhar com desempregados de uma siderúrgica fechada. Em 1991, Obama concluiu uma pós-graduação na prestigiada Universidade de Harvard (Massachusetts), e voltou para Chicago para trabalhar como advogado especializado em direitos humanos e professor de direito constitucional.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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