Latinos decidem em 4 Estados

O cubano Enrique Mon tem 58 anos de idade, e há apenas 10 vive nos Estados Unidos. Sua filha e outros familiares continuam em Cuba.

MIAMI – “Todas as vezes que volto de lá, penso que, se acontecer alguma coisa com minha família, só poderei ir de novo dentro de três anos”, conta ele, referindo-se a uma restrição do governo cubano. “Minha mulher é peruana. Pode ir para o país dela a hora que quiser.” 

Esse é um dos principais motivos pelos quais Mon apóia Barack Obama. “Ele está mais disposto a dialogar com Cuba, e isso é bom”, diz o cubano, que trabalha como eletricista para uma rede de supermercados em Miami. Mon faz parte de uma nova geração de cubanos na Flórida, que já está nos Estados Unidos tempo suficiente para votar, mas não o bastante para ter perdido seus laços com Cuba. A primeira geração de cubanos, que vieram crianças com os pais logo depois da Revolução de 1959, que lhes confiscou o patrimônio, fincou suas raízes nos Estados Unidos, nutre um ódio visceral por tudo o que se aproxime da esquerda e forma o núcleo duro de fiéis eleitores do Partido Republicano na Flórida.

“Existem mudanças que são para melhor e outras para pior”, pondera Josefina Cortón, uma dona de confecção de 53 anos, que veio para os EUA em 1966. “A Revolução Cubana foi uma mudança que destruiu o país. Não nascemos iguais. Sempre uns vão ter mais, outros menos”, diz Josefina, que sempre votou nos republicanos, e dessa vez não fará diferente. “John McCain tomará decisões com cuidado”, continua ela, referindo-se às relações com Cuba. “Para que dialogar com um inimigo que só quer prejudicá-lo? Não se pode confiar num inimigo comunista.”

Mas nem todos os cubanos da primeira geração seguem pensando como Josefina. “Sempre fui republicano, quase todos os cubanos são republicanos”, diz Manfredo Lee, contador aposentado de 64 anos, há 47 nos Estados Unidos. “Mas George W. Bush foi um desastre para este país, sobretudo na economia”, diz Lee, que pretende votar em Obama. “Além do mais, levamos 50 anos com essa política em relação a Cuba, e não deu resultado. Não se perde nada conversando.”

Segundo pesquisa feita em setembro pela Associação Nacional de Funcionários Latinos Eleitos e Nomeados (Naleo), 38% dos latinos na Flórida apoiavam McCain e 35%, Obama. Dos 130 milhões de eleitores americanos, 12 milhões são hoje latinos (de uma parcela de 45 milhões que moram nos EUA). Em 2004, eram 9 milhões. O voto latino tem papel importante em quatro Estados em que a disputa entre republicanos e democratas é acirrada: Flórida, Colorado, Novo México e Nevada, que somam, juntos, 46 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Mas a Flórida concentra mais da metade: 27.

Segundo a pesquisa da Naleo, Obama vence McCain por 63% a 15% no Colorado, 61% a 20% no Novo México e 55% a 14% em Nevada. “Em geral, os latinos preferem os democratas numa relação de dois para um”, observa o cientista político John Garcia, da Universidade do Arizona. “Os republicanos têm atitude mais hostil em relação à imigração.”

Em 2000, depois da recontagem dramática de votos na Flórida, que terminou na Corte Suprema, Bush venceu o democrata Al Gore por 537 votos, ou 0,009% do total no Estado. Há quatro anos, o presidente derrotou John Kerry por 52% a 47%. Obama se mantém com pequena margem na frente de McCain: 51% a 47%, tanto segundo o Instituto Rasmussen quanto sondagem da CNN e revista Time. Pesquisa do Instituto Zobgy indica empate entre os dois, em 47%.

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