Obama admite gravidade da crise e começa a formar governo

Presidente reconhece ‘longo e íngreme’ caminho pela frente. Bush diz que eleição marca ‘triunfo da História’ do país

MIAMI  – A vitória de Barack Obama e do Partido Democrata na terça-feira foi impactante, mas a magnitude dos problemas que os Estados Unidos enfrentam não dá margem para longas celebrações. No seu discurso da vitória, na madrugada de ontem, Obama pediu “sacrifício” e “união” dos americanos para o “longo e íngreme caminho” pela frente.

Dando uma medida da urgência dos problemas, Obama apressava ontem as articulações para anunciar os postos-chave em seu gabinete e assim iniciar rapidamente a transição até sua posse no dia 20 de janeiro.

Segundo fontes próximas ao presidente eleito, Obama escolheu como chefe de gabinete o deputado Rahm Emanuel, número quatro na liderança da bancada democrata na Câmara dos Representantes e ex-assessor do ex-presidente Bill Clinton. Outro ex-colaborador de Clinton, John Podesta, que foi seu chefe de gabinete, deve ser indicado para coordenar a transição.

Para o delicado cargo de secretário do Tesouro, em meio à maior crise econômica desde a Grande Depressão dos anos 30, um dos possíveis nomes é Paul Volcker, ex-presidente do Banco Central de 1979 a 1987.

Outros cogitados são o presidente do Banco Central no Estado de Nova York, Timothy Geithner; Lawrence Summers, último secretário do Tesouro de Clinton, e o megainvestidor Warren Buffett.

Para o Departamento de Defesa, há uma expectativa de que Obama possa nomear um republicano, num gesto para atenuar a polarização entre os dois partidos nessa área. Entre os nomes citados estão o do atual secretário, Robert Gates, responsável pelo aumento do contingente no Iraque, e o do senador republicano Chuck Hagel, um veterano da guerra do Vietnã que é crítico da forma como o governo de George Bush conduziu a guerra.

Hagel é cotado também para o cargo de secretário de Estado, assim como o senador democrata John Kerry, derrotado na eleição presidencial de 2004. Vários outros nomes são citados.

No discurso da madrugada de ontem em Chicago, Obama advertiu: “A estrada adiante será longa. Podemos não chegar lá em um ano ou mesmo em um mandato. Haverá retrocessos. Sabemos que o governo não pode resolver todos os problemas.” Ele assinalou: “Não será possível sem vocês, sem um novo espírito de serviço, um novo espírito de sacrifício.”

MÃO ESTENDIDA

Obama estendeu a mão aos republicanos. Depois de tecer elogios ao seu adversário, o senador John McCain, e de felicitar sua vice, Sarah Palin, ele assinalou: “Estou ansioso em trabalhar com eles para renovar a promessa desta nação nos próximos meses.”

O presidente eleito pediu aos políticos que “resistam à tentação de recuar para o mesmo sectarismo, mesquinharia e imaturidade que envenenou a política por tanto tempo”.

Segundo ele, o Partido Democrata “teve uma grande vitória, mas terá humildade e determinação para curar as divisões que têm obstruído o progresso do país”.

OPOSIÇÃO CONSERVADORA

A dúvida é se Obama encontrará ressonância entre os republicanos. “Na Câmara dos Representantes, não se elegeram republicanos moderados com quem os democratas poderiam se aproximar”, observa Michael McDonald, especialista em eleições da Brookings Institution. “A nova bancada tem um perfil bastante conservador.” No Senado, McDonald vê mais chances de diálogo.

A folgada maioria democrata, sobretudo na Câmara, pode ser uma tentação para governar somente com o partido vencedor.

Em 1992, Clinton elegeu-se com maiorias muito similares: 258 na Câmara e 57 no Senado, recorda Gerald Seib, colunista do Wall Street Journal.

Auto-suficiente, fez pouco esforço de negociar com os republicanos, que acirraram sua oposição, recuperaram as maiorias na Câmara e no Senado em 1994 e bloquearam projetos importantes do governo, como a criação de um sistema público de saúde, à qual a então primeira-dama, Hillary Clinton, dedicou anos de esforço, sem sucesso.

Ainda ontem, Bush ofereceu a Obama “uma transição suave” e qualificou a eleição do democrata de “o triunfo da História americana”. “Este é um momento especial para uma geração de americanos que testemunhou a luta pelos direitos civis e, quatro décadas depois, vêem esse sonho realizado”, disse.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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