Obama é eleito o primeiro presidente negro dos EUA

Candidato democrata consolida vitória histórica nas urnas após rival republicano John McCain reconhecer derrota

PALM BEACH – Há apenas quatro décadas, os negros lutavam para garantir na prática o direito de voto no Sul dos EUA. No dia 20 de janeiro, o senador democrata Barack Obama, de 47 anos, tomará posse como o primeiro presidente negro da história americana. De acordo com projeções sobre os votos apurados até 2h30 de hoje em Brasília, Obama havia conquistado 333 votos no Colégio Eleitoral, contra 155 para o seu adversário, o senador republicano John McCain. São necessários 270 votos do total de 538 para se eleger presidente. Com um terço dos votos apurados, Obama, um senador em primeiro mandato desconhecido pela maioria dos americanos até recentemente, vencia na contagem nacional por 51% a 49%.

McCain apareceu diante de milhares de simpatizantes às 21h18 em Phoenix (2h18 em Brasília) para reconhecer a derrota. “O povo americano se posicionou claramente”, disse ele, ao lado de sua candidata a vice, Sarah Palin. “Tive a honra de ligar há pouco para o senador Obama para felicitá-lo”, continuou, elogiando a “habilidade e perseverança” do rival. Com a voz embargada, McCain exaltou o “especial significado” da vitória de Obama para os negros, e o “especial orgulho que eles sentem esta noite”.

Obama e os candidatos democratas a deputados e a senadores venceram em quase todos os seus redutos e ainda avançaram sobre antigos bastiões republicanos, ampliando os resultados de 2004. McCain, de 72 anos, herói da Guerra do Vietnã e senador há 26 anos, sofreu derrotas de alto valor simbólico. Segundo as projeções, ele perdeu em Ohio e Iowa, dois redutos conservadores do Meio-Oeste. Nenhum republicano foi eleito presidente sem vencer em Ohio.

McCain foi derrotado também na Virgínia, onde um democrata não vencia desde 1964. Obama conquistou ainda a Pensilvânia, um Estado democrata que os republicanos consideravam crucial para sua vitória, pela qual McCain se engajou fortemente. O republicano também foi derrotado em New Hampshire, que conta com quatro votos, mas onde também fez um esforço pessoal extra para ganhar. Com exceção de Nebraska e Maine, todos os votos de cada Estado no Colégio Eleitoral – proporcionais à sua população – vão para o vencedor.

A eleição de ontem foi marcada por um comparecimento recorde. E esse dado pode ajudar a explicar a vitória de Obama. Durante a campanha, os democratas conseguiram registrar o dobro de eleitores novos em comparação com os republicanos. A dúvida era se eles compareceriam para votar. Pesquisa de boca-de-urna realizada pela CNN mostrou que 72% dos eleitores que foram às urnas pela primeira vez votaram no candidato democrata.

A crise econômica e sua relação com a impopularidade do presidente George W. Bush – que sofre de uma desaprovação de mais de 70% – podem ter sido centrais na eventual vitória democrata. Para 62% dos eleitores ouvidos pela boca-de-urna, a economia era a questão mais importante nessa eleição.

O Iraque veio em segundo lugar distante: 10% dos eleitores o consideraram a questão principal. Desses, 64% votaram em Obama e 36%, em McCain, o que demonstra que o candidato republicano não se saiu bem em uma de suas principais bandeiras, a da segurança nacional, além de ela não ser tão decisiva nessa eleição. Outros 9% escolheram o terrorismo, outro tema-chave para McCain. Desses, 86% votaram em Obama, que prometeu retirar as tropas do Iraque e concentrar as forças no combate à Al-Qaeda e aos taleban no Afeganistão.

O sistema de saúde foi a principal questão para outros 9% dos votantes. Obama prometeu criar um sistema público de saúde com adesão opcional, enquanto McCain ofereceu um crédito tributário de US$ 5 mil para famílias de baixa renda pagarem pelo convênio privado de sua escolha.

Outro dado interessante é que 52% dos eleitores com renda anual acima de US$ 100 mil votaram em Obama; 47% escolheram McCain e 1%, outros candidatos.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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