Para consultor, lobby do petróleo foi contra invasão

Edward Luttwak se destaca entre os analistas de defesa por duas peculiaridades. Uma é a sua vivência prática em operativos militares e ações de inteligência no terreno, das quais participa até hoje, aos 63 anos.

RIO – A outra é o teor politicamente incorreto de suas opiniões, destoante dos consensos em círculos intelectuais. Numa de suas palestras na Escola de Guerra Naval, um analista da Petrobrás lhe perguntou sobre o papel das companhias de petróleo americanas na decisão de invadir o Iraque. “A visão de que as empresas de petróleo mandam no governo dos EUA é um mito”, descartou Luttwak. “A invasão do Iraque é prova disso.” Segundo ele, executivos do setor pediram ao ex-presidente George H. Bush, pai do atual, com vínculos estreitos com a indústria do petróleo no Texas, que intercedesse para que o filho desistisse da invasão, já que isso só desestabilizaria o Iraque e atrapalharia os negócios. 

“Desde 1948 as companhias de petróleo têm feito lobby para que os EUA não dêem nenhum apoio a Israel, porque isso fere os seus negócios”, recapitulou Luttwak. “Os EUA têm oscilado entre apoio passivo e muito ativo, mas sempre deram apoio.”

Durante a escalada, em 2003, Luttwak escreveu um memorando contra a invasão do Iraque, e o entregou a Condoleezza Rice, então chefe do Conselho de Segurança Nacional. “Foi a primeira vez que me opus a uma guerra em 14 anos.” Ela respondeu que tinha recebido outro igual do Estado-Maior das Forças Armadas. Ignorou ambos. “A única coisa que vejo de bom no Iraque é que Saddam está com saúde, em boa forma, desempregado e pronto para o cargo, caso alguém precise de governo no Iraque”, ironiza Luttwak, que diz ter sido acusado até de racismo por não crer em democracia no Iraque.

Numa de suas formulações politicamente incorretas, Luttwak observou que “nenhuma potência quer dar jeito na Somália”, um país entregue à anarquia, e perguntou: “Onde estão os colonialistas quando se precisa deles?” Para ele, a Somália está precisando ser administrada por uma potência colonial. “Não por muito tempo, só uns 150 anos.” Luttwak andou por lá: “Não é um lugar muito legal.”

Há uma semana, Luttwak conta que estava na Indonésia, numa operação antipirataria. O Maritime Security Bureau, uma associação privada de companhias de seguro e de navegação, encomendou-lhe um plano de combate às ações dos piratas no Sul da Ásia e Oceania. Ele sugeriu navegar o arquipélago indonésio num iate luxuoso, para atrair e surpreender os piratas.

Um funcionário do Ministério da Defesa da Malásia perguntou quem ia querer estar a bordo para servir de isca de piratas. “Eu vou“, respondeu Luttwak. “Quando os piratas atacavam, nós os prendíamos. Tínhamos metralhadoras camufladas. Em dois casos, tivemos de afundar os barcos.Mas o melhor mesmo eram as três policiais australianas de biquíni no deck. Foi muito divertido.”

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