Narcotráfico mata mais que epidemia

Segurança pública é desafio político mais difícil para Calderón

TIJUANA, MÉXICO  – No médio prazo, o surto verdadeiramente persistente que o presidente Felipe Calderón enfrenta é o da violência na fronteira. Desde que lançou sua ofensiva contra o narcotráfico, em janeiro de 2007, morreram 10.700 pessoas em confrontos entre os criminosos, a polícia e o Exército. São, em média, 12 mortos por dia. A epidemia da gripe suína teve 45 mortes confirmadas entre 11 de abril e 8 de maio – menos de 2 por dia.

Diante da incapacidade e da corrupção nas polícias municipais e estaduais, Calderón mobilizou 47 mil militares e 8 mil policiais federais para combater o narcotráfico. Seu governo tem-se vangloriado de uma queda de 70% na violência nos primeiros quatro meses deste ano, mas os especialistas contestam esse número.

“A cifra é muito enganosa, porque compara com o mesmo período do ano passado, que foi excepcionalmente violento”, diz Victor Clark, diretor do Centro Binacional de Direitos Humanos, em Tijuana, na fronteira com a Califórnia. “Comparando com 2007, que esteve nos níveis históricos, não variou.”

Segundo José María Ramos, pesquisador do Colégio da Fronteira Norte, em todo o ano passado, ocorreram cerca de 6 mil assassinatos relacionados ao narcotráfico no país, enquanto nos quatro primeiros meses deste ano foram 1.200. Ramos diz que 80% dessas mortes são de pessoas diretamente envolvidas com o crime – sejam traficantes ou policiais que trabalham para eles -, em disputas de território e de mercado ou cobranças de dívidas. Os outros 20% são policiais e militares em confronto com os bandidos. E há os inocentes, mortos sobretudo em ações do Exército.

Em termos qualitativos, a situação se deteriorou com Calderón. Os sete cartéis diversificaram suas atividades, passando a sequestrar, a extorquir empresários e a obrigá-los a vender-lhes seus negócios, ao estilo da máfia italiana. Há relatos de empresários obrigados a pagar US$ 10 mil por mês. Outros falam em 25 mil pesos (US$ 2 mil), dependendo do tamanho e da natureza do negócio.

O México tornou-se o centro de distribuição de drogas do continente – um negócio de US$ 25 bilhões ao ano. Entrega 80% da cocaína (vinda da Colômbia) e da maconha (produção local) consumidas nos EUA, que, por sua vez, fornecem 90% das armas usadas pelo crime organizado.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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