Prefeito é acusado por desaparecimento de estudantes

Administrador de Iguala e sua mulher estão presos, assim como policiais e traficantes

IGUALA, México – O Ministério Público do Estado de Guerrero acusou ontem formalmente o prefeito destituído de Iguala, José Luis Abarca, pelo desaparecimento de 43 estudantes, provavelmente massacrados na noite de 26 de setembro pela Polícia Municipal e pelo cartel de narcotraficantes Guerreros Unidos. O ex-prefeito, preso desde o dia 4 junto com sua mulher, María Ángeles Pineda de Abarca, é apontado como o “provável mentor” do crime.

Ao menos 74 pessoas estão presas por envolvimento no massacre, incluindo policiais e integrantes do cartel, que confessaram ter matado os estudantes, queimado seus corpos e jogado no lixão da cidade ou em um rio. De acordo com a Procuradoria-Geral da República, a Polícia Municipal matou uma parte dos estudantes, e entregou os restantes aos sicários do cartel. Moradores do local onde os três ônibus que levavam os manifestantes foram cercados e metralhados contaram ao Estado ter ouvido intensos disparos entre as 21 horas e as 23 horas de 26 de setembro.

Ainda segundo as investigações da Procuradoria-Geral, o prefeito ordenou ao secretário de Segurança do município, Felipe Flores, que impedisse os estudantes de se manifestar naquela noite, quando sua mulher apresentaria sua prestação de contas como presidente do DIF, o órgão municipal de assistência social. “Houve uma festança no Zócalo”, lembrou uma comerciante, referindo-se à praça principal da cidade. “Os estudantes vieram para escrachar a festa”, testemunhou outro morador.

Os manifestantes, que pertencem a movimentos de esquerda, faziam o curso de formação de professores na Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, a quase duas horas de distância de Iguala. Mas mantinham uma antiga rixa com o prefeito, acusado de envolvimento na tortura e execução de três líderes da União Popular, um grupo militante de esquerda. Depois de suas mortes, em 30 de maio do ano passado, os estudantes depredaram o prédio da prefeitura de Iguala. Eles vinham com frequência para a região, onde faziam saques e bloqueavam estradas, cobrando “pedágios” dos motoristas. Na época do massacre, estavam arrecadando dinheiro para uma marcha para lembrar o massacre de Tlatelolco, ocorrido no dia 2 de outubro de 1968.

A onda de manifestações pelo desaparecimento dos 43 estudantes continuou ontem no Estado de Guerrero, onde se situam Iguala e Ayotzinapa. Na capital do Estado, Chilpancingo, manifestantes formados em escolas para professores rurais saquearam nove caminhões carregados de mercadorias. Eles disseram que elas seriam distribuídas entre comunidades rurais. Os caminhões iam descarregar em uma grande loja da cidade, Aurrerá, que fechou as portas.

Professores, estudantes e militantes de esquerda também fizeram uma manifestação na Avenida Insurgentes, em Chilpancingo, por causa dos 43 desaparecidos, e também para lembrar a repressão por parte da Polícia Estadual, que desocupou o edifício do Congresso (equivalente à Assembléia Estadual), no dia 14 de novembro de 2007 – há exatos sete anos. O prédio havia sido tomado por “normalistas” para exigir a abertura de vagas para professores rurais.

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