O vento sopra a favor de Mauricio Macri

O governo de Mauricio Macri ganha popularidade e assume a dianteira nas pesquisas para as eleições do dia 22. Mas a vantagem sobre Kirchner ainda é apertada

MACRI ENCONTRA OBAMA NA ARGENTINA: 40,6% dos entrevistados em todo o país pretendem votar em candidatos da frente governista | Reuters

A menos de duas semanas das eleições parlamentares do dia 22 na Argentina, o governo do presidente Mauricio Macri assume a dianteira nas principais pesquisas. As intenções de voto não garantem maioria absoluta no Congresso, mas, se confirmados os resultados, aumentam as chances de o presidente avançar em suas reformas liberais, já que a oposição de esquerda está fragmentada e o governo tem condições de negociar apoio por meio da distribuição de verbas para os governadores das províncias.

Pesquisa publicada no domingo pelo jornal Clarín indica que 40,6% dos entrevistados em todo o país pretendem votar em candidatos da frente governista Cambiemos. Os votos nos partidos de oposição somam 43,5%, mas eles não exibem a mesma coesão que o governo, e Macri poderá atrair apoio entre os peronistas não-vinculados à ex-presidente Cristina Kirchner, principal — e mais intransigente — líder oposicionista.

Outra pesquisa, publicada pelo jornal La Nación, indica vantagem de 2 a 4 pontos de Esteban Bullrich, o candidato governista ao Senado pela cidade de Buenos Aires, sobre Kirchner, que encabeça a principal lista da oposição para o Congresso. Até mesmo sondagem publicada pelo jornal Página 12, simpático ao kirchnerismo, registra vantagem de 1,9 ponto porcentual da chapa governista em Buenos Aires.

O vento parece soprar a favor de Macri: em julho, a mesma consultoria que fez a sondagem para o Clarín, a Management&Fit (M&F), atribuía 36,5% à frente governista, contra 44,2% para a oposição. Nas eleições primárias oficiais realizadas pelos partidos no dia 13 de agosto, a frente do governo obteve 36%; o kirchnerismo, 21%, e os peronistas não vinculados à ex-presidente, 15%.

A evolução da intenção de voto na frente Cambiemos coincide com a melhora da popularidade do presidente. Depois de sete meses de imagem negativa, Macri obteve na pesquisa da M&F 46,5% de aprovação contra 40,1% de desaprovação.

De acordo com o analista Sergio Berensztein, diretor da consultoria em Buenos Aires que leva seu nome, a melhora na aprovação do governo se deve a dois fatores. O primeiro são três trimestres consecutivos de recuperação econômica, sobretudo nos últimos quatro meses.

“Depois de quase seis anos de estagflação (recessão com inflação alta), há um crescimento de 3,5%, o que é muito significativo”, disse Berensztein a EXAME. Além disso, acrescenta o consultor, a partir das primárias partidárias de agosto, “o governo tem tido uma presença muito mais nítida, enquanto que a oposição está muito fragmentada, sem lideranças importantes, o que inclui a ex-presidente Cristina Kirchner, que anda muito debilitada”.

Entretanto, o analista Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos União para a Nova Maioria, de Buenos Aires, adverte que “as tendências eleitorais são cambiantes, e mesmo em países com informação muito precisa para determinar as amostras das pesquisas, como o Reino Unido e a Alemanha, mostraram mudanças de 4 a 5 pontos nos dias prévios à eleição”.

Fraga observa que Macri alterna a campanha entre as províncias e a região urbana de Buenos Aires, onde tem usado os programas de crédito como arma eleitoral. “Cambiemos pode ganhar aproximadamente na metade dos distritos, ou seja, 12 dos 24, e sua aspiração é fazê-lo nos 5 maiores: Buenos Aires, Córdoba, Santa Fe, Cidade de Buenos Aires e Mendoza”, estimou o especialista a EXAME.

À pergunta sobre se 40% dos votos são suficientes para tocar as reformas, Berensztein explicou que essa eleição renova metade da Câmara e um terço do Senado, como ocorre a cada dois anos. O terço do Senado em disputa é a bancada formada em 2011, quando Kirchner se reelegeu com 54% dos votos. Na Câmara dos Deputados, das 257 cadeiras, a frente que apoia Macri pode ficar com 102 a 110. “O governo pode aumentar seu apoio consideravelmente”, conclui o analista.

E qual seria a pauta das reformas? “Há muita incerteza quanto aos conteúdos específicos”, ressalta Berensztein. “O governo ainda não deu esse debate. Só o fará depois das eleições.” Mas a agenda não é muito diferente da do Brasil: reformas tributária, trabalhista e previdenciária, além de uma lei de responsabilidade fiscal que enquadre os gastos das províncias.

“As reformas estão muito atrasadas, há décadas que a Argentina não faz nada”, analisa o consultor. O país até tem idade mínima para aposentadoria de 65 anos para homens e 60 para mulheres, mas há muitas exceções nas províncias e em categorias profissionais, como a dos professores, tornando possível aposentar-se com 25 anos de contribuição, ao redor de 50 anos de idade. “As províncias têm bastante independência, e têm abusado”, diz ele, referindo-se à responsabilidade fiscal.

Kirchner tem advertido os eleitores de que haverá um novo “tarifaço” depois das eleições, lembrando o que ocorreu no início do governo Macri, que assumiu em dezembro de 2015. O presidente retirou os subsídios dos serviços públicos, como eletricidade e combustíveis, causando aumentos de 300%. A inflação chegou a mais de 40%, mas agora está baixando. Nos 12 meses até julho, registrou 21,5%. Berensztein diz que há de fato um cronograma de recomposição tarifária, mas que o impacto disso sobre a inflação é desconhecido, porque alguns dos preços já estão ajustados para esses aumentos.

De qualquer forma, passada a eleição, observa Rosendo Fraga, “o peronismo dá sinais de unificar-se com vista à negociação com o governo nacional”. O diálogo envolverá não só as bancadas peronistas mas também a Confederação Geral do Trabalho (CGT), principal central sindical do país.

Nesse cenário, Macri precisará de duas coisas: habilidade e paciência. Na melhor das hipóteses, as reformas serão marcadas pelo gradualismo.

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