Brasileiros bancam movimento pró-autonomia

Sojicultores dão dezenas de milhares de dólares para o Comitê Pró-Santa Cruz

 

SANTA CRUZ DE LA SIERRA – A histórica manifestação do dia 28 de janeiro, que elevou o tema da autonomia e da eleição direta para governadores para o topo da agenda nacional, teve um dedo brasileiro. Ou melhor, uma mão inteira. A Associação de Produtores de Oleaginosas e Trigo (Anapo) doou mais de US$ 50 mil para o Comitê Pró-Santa Cruz, organizador do evento. Isso equivale a um quarto do orçamento anual do Comitê. E a maior parte desse dinheiro veio dos produtores de soja brasileiros, contou ao Estado o presidente da Anapo, Carlos Rojas.

O protagonismo brasileiro reflete sua liderança econômica no setor. Em produção de grãos, os sojicultores brasileiros respondem por 30% a 35% do total, seguidos pelos bolivianos, com 27%, pelos menonitas (membros de seita cristã provenientes sobretudo do Canadá e do México), e os restantes de outros países, entre japoneses, russos, etc. Os brasileiros produzem mais por terem as terras maiores, embora sejam numericamente muito inferiores. Dos 11 mil produtores, 60% são bolivianos e 30%, menonitas.

“Apoiamos 100% a autonomia”, confirma Nilson Medina, um dos maiores produtores de soja da Bolívia, com 7 mil hectares de área plantada. “É bom para a região e para o país.” Engenheiro agrônomo, Medina veio de Londrina em 1992, quando pediu demissão na Monsanto para se tornar fazendeiro na Bolívia. Seus dois filhos nasceram em Santa Cruz de la Sierra e, dentro de alguns meses, se tornará cidadão boliviano. “Estamos muito inseridos na sociedade daqui”, entusiasma-se.

“Os brasileiros têm contribuído muito, trazendo novas tecnologias”, diz Rojas, que na sexta-feira estava recebendo o químico Miguel Dabdoub, da USP de Ribeirão Preto, coordenador do Projeto Biodiesel Brasil. A convite da Anapo, Dabdoub, nascido em São Paulo, de pais bolivianos, e que morou dos 3 aos 16 anos na Bolívia, veio fazer recomendações à bancada de Santa Cruz no Congresso sobre a regulamentação da Lei do Biodiesel e aos produtores sobre como explorar o novo combustível.

“Santa Cruz olha muito mais para o Brasil do que para a Bolívia”, diz Tuffi Aré Vásquez, chefe de redação do jornal El Deber. De tanto olhar para o leste, os crucenhos viram a realização de um velho sonho boliviano: a saída para o mar, por meio da Hidrovia Paraguai-Paraná, que sai de Puerto Suárez, a 600 quilômetros de Santa Cruz de la Sierra.

Antes, 60% da produção de soja, açúcar e madeira escoava por esse lado, e o restante por estrada via Cochabamba e os Andes, pontuada de bloqueios ordenados pelo líder cocaleiro Evo Morales. A fatia já saltou para 80% e deverá se aproximar dos 100% quando estiver concluído o asfaltamento da estrada para Puerto Suárez, a ampliação do Puerto Busch (US$ 80 milhões) e a ferrovia entre os dois portos (US$ 50 milhões). As obras estão em licitação.

“A Bolívia é enclausurada pelo lado do Pacífico”, diz Juan Manuel Arias, gerente da Câmara de Exportadores de Santa Cruz. “Não pelo lado do Atlântico.” 


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