País perde US$ 13 milhões por dia com bloqueios

Insegurança afasta dezenas de empresas estrangeiras e governo teme ‘desprestígio internacional’ da Bolívia

 

SANTA CRUZ DE LA SIERRA – Por cada dia de bloqueios de estradas, a Bolívia perde US$ 13,8 milhões em produção de bens e serviços. O governo deixa de arrecadar US$ 2,8 milhões. Em janeiro, quando foram registrados 340 “eventos conflitivos” no país, as exportações caíram 10,31% – ou US$ 17,1 milhões – em comparação com o mesmo mês no ano passado. Antes, elas vinham num crescendo. De janeiro de 2003 para janeiro de 2004, as exportações aumentaram 51,53%. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Econômico.

No agronegócio, a queda das exportações foi de 40,79%. Em janeiro de 2004, a Bolívia exportou US$ 59 milhões em soja e derivados; no mesmo mês deste ano, foram US$ 35 milhões. Produtos perecíveis, como banana e abacaxi, que estão em época de colheita, são os que mais sofrem com os constantes bloqueios de estradas. A irregularidade nas entregas faz os produtores perderem clientes.

O vice-ministro da Indústria, Comércio e Exportações, Gonzalo Melina, advertiu ontem para o “desprestígio internacional” da Bolívia como candidata a “corredor bioceânico” do Brasil para o Pacífico. “Para o Brasil, não é viável vir pela Bolívia”, disse ele.

Em El Alto, foco constante de bloqueios e protestos, a 15 quilômetros de La Paz, o Ministério do Desenvolvimento estima que 70 empresas possam fechar as portas ou se transferir este ano, em razão do clima de insegurança. No ano passado, El Alto perdeu mais de 60 empresas.

Os pontos de bloqueios em todo o país diminuíram de 30 na quarta-feira, para 24 ontem, segundo a polícia. Milhares de pessoas se reuniram ontem ao meio-dia nas praças das principais cidades, atendendo a convocação do presidente Carlos Mesa para se manifestarem contra os bloqueios. “Vamos ganhar dos que querem a violência com a mão da Justiça, que é implacável com os que violam a lei”, discursou Mesa, da sacada do Palácio Quemado, no centro de La Paz.

O comandante da Polícia Nacional, general David Aramayo, declarou que as forças de segurança estão prontas para entrar em ação. “Dependemos de uma ordem do governo”, afirmou ele. O presidente quer evitar derramamento de sangue. O vice-ministro da Justiça, Carlos Alarcón, firmou uma resolução na quarta-feira determinando que o Ministério Público entre com ações na Justiça contra o que violam o direito de “livre trânsito”.

A principal reivindicação dos manifestantes é o aumento de 18% para 50% na cobrança de royalties sobre a exploração de gás natural, que soma US$ 1,5 bilhão ao ano. A proposta está em tramitação no Congresso. O presidente é contra a elevação dos royalties, que na sua opinião afugentaria os investimentos estrangeiros. Só a Petrobrás extrai cerca de US$ 540 milhões em gás por ano da Bolívia. O governo propõe que os restantes 32% sejam cobrados na forma de impostos. O principal líder da oposição, Evo Morales, dirigente do Movimento ao Socialismo, qualificou a proposta de “enrolação”.

 
 

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