Buratti acumula patrimônio de R$ 1,5 milhão

Ao sair da prefeitura de Ribeirão, em 1994, ex-secretário de Palocci tinha R$ 16,8 mil

 

RIBEIRÃO PRETO – Rogério Tadeu Buratti largou a Secretaria de Governo de Ribeirão Preto sob circunstâncias lastimáveis. Uma gravação, feita por ele mesmo, e furtada de seu gabinete, pilhava-o dividindo com um empreiteiro lances de carta marcada no baralho imobiliário de Ribeirão, e negociando facilidades em nome do então prefeito Antônio Palocci Filho. Isso foi em 1994. Passados dez anos, Buratti, envolto em novo escândalo, é a prova de que, no mundo dos contratos públicos – que ele nunca abandonou -, reputação e êxito guardam relação peculiar.

Em depoimento à comissão de investigação aberta na Câmara Municipal de Ribeirão para apurar o significado daquela conversa, Buratti, que escapou de julgamento porque a prova fora obtida ilicitamente, declarou patrimônio de R$ 16,8 mil e renda familiar de R$ 2,8 mil. Hoje, Buratti não tem do que se queixar. Seu patrimônio averiguável em Ribeirão, somando casas, terrenos e automóveis, ganhou mais dois dígitos. Seguindo estimativas conservadoras do mercado, totaliza pelo menos R$ 1,5 milhão.

Seus rendimentos declarados também se multiplicaram, embora não na mesma velocidade. De acordo com seu contador, José Henrique Barreira, a empresa BBS Consultores Associados Ltda., pertencente a Buratti, fatura entre R$ 200 mil e R$ 300 mil ao ano. É por intermédio da BBS, segundo o contador, que Buratti tem sido remunerado pela função de vice-presidente executivo do Grupo Leão Leão, holding de empresas que faturou R$ 170 milhões no ano passado e planeja faturar R$ 250 milhões este ano, executando serviços de limpeza e obras de infra-estrutura para a prefeitura de Ribeirão e de outros municípios da região, além de administrar rodovias.

Com uma carreira tão vertiginosa, é natural que Buratti – originário de Osasco, onde ajudou a fundar o PT, e de onde veio, como assessor de Palocci, num Fusca 1979 que guarda até hoje – goze de notável autoconfiança. Quando a multinacional americana Gtech, a maior fornecedora e operadora do mundo de equipamentos para jogos e loterias, pediu-lhe que lhe desse uma mão nas negociações para a renovação de seu contrato de R$ 650 milhões com a Caixa Econômica Federal, ele encarou o convite com naturalidade.

Foi a Brasília, mas, quando viu do que se tratava, segundo seu relato, informou que já não atuava mais em consultoria havia cinco anos – desde que deixou a Assessorarte, empresa dedicada a organizar concursos públicos para prefeituras, cuja parte na sociedade ele transferiu à irmã em 1999, depois de entrar para a Leão Leão.

A julgar pelo interesse da americana Gtech, o prestígio da BBS – cadastrada com o endereço da filha de uma copeira da Leão Leão, num conjunto habitacional em Jardinópolis, na Grande Ribeirão – tem ganhado alcance internacional, até mesmo fora de sua expertise. A versão dos executivos da multinacional, de que a contratação de Buratti tivesse sido condição imposta pelo então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, não faz sentido, assegura Buratti: o ex-braço direito do ministro Palocci sequer conhece o ex-braço direito do ministro José Dirceu.

Guinada – A saída de Buratti da prefeitura representou uma guinada em sua vida: ele deixou de contratar serviços para o município e passou a obter contratos do município. E rompeu abruptamente os fortes laços de trabalho e amizade que o uniam ao seu antigo preceptor e atual ministro da Fazenda.

Palocci não quer nada com Buratti, mas conserva o entusiasmo pelo Grupo Leão Leão, do qual ele é vice-presidente – agora afastado até que se esclareça o escândalo da Gtech. O ministro “sente orgulho de sua relação cordial com a Leão Leão, que representa a vitalidade da região e é um exemplo do seu capitalismo”, segundo a assessoria de Imprensa do ministro da Fazenda.

Palocci, como prefeito até novembro de 2002, contratava; Buratti procurava obter contratos para a Leão Leão. E a relação não passava disso.

Daí a surpresa de Buratti quando foi informado, pela TV Record, de que o chefe de gabinete do ministro, Juscelino Dourado, de quem foi sócio e padrinho de casamento, estivera em sua casa na manhã de sábado, um dia depois do explosivo depoimento dos executivos da Gtech. Dourado, que atendeu o telefone da casa de Buratti e justificou sua presença dizendo que pretendia alugá-la, foi visto em seguida pelo porteiro, saindo do condomínio. “Esteve?”, perguntou Buratti, que, por estar se mudando de casa, parece ter perdido o controle sobre quem entrava e saía. “Eu não sabia, não.” Dourado nega que tenha estado na casa de Buratti.

A independência de Buratti em relação ao PT é ilustrada, também, pelo fato de que, segundo ele, entre os “300 a 400” clientes que a Assessorarte já teve, “no máximo 10%” foram prefeituras do partido. Ou seja, apenas 30 a 40 administrações petistas se valeram da empresa para promover concursos públicos e outras intrincadas tarefas.

Enquanto Buratti trocou o serviço público pela iniciativa privada, seu amigo Ralf Barquete dos Santos fez o caminho inverso. Deixou a Leão Leão e se tornou secretário da Fazenda de Palocci. Hoje consultor da presidência da Caixa Econômica Federal, Ralf foi um dos arrecadadores da campanha de Palocci, que teve como principal doadora, segundo a prestação de contas, a Leão Leão.

Outro que transitou entre o público e o privado foi Luiz Antônio Prado Garcia, presidente do Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM) na primeira gestão de Palocci (1993-97) e da Comissão de Licitações, na segunda (2001-02). Além de sócio de Buratti na Assessorarte. Esse mundo é pequeno. 


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