Campanha presidencial de 2002 teria custado R$ 200 milhões

Segundo membro do comitê, o gasto foi dez vezes superior ao declarado oficialmente

 

A equipe de arrecadação da campanha de Lula à Presidência, comandada por Delúbio Soares, conseguiu levantar R$ 21,072 milhões por dentro, conforme declarado à Justiça Eleitoral. Contabilizou gastos de R$ 21,061 milhões, anotando, prudentemente, uma sobra de R$ 11 mil. A realidade é bem diferente. A campanha custou R$ 200 milhões, segundo fonte muito próxima de Delúbio que trabalhou na arrecadação. No fim, sobrou uma dívida de caixa 2 de R$ 21 milhões. O que significa que a arrecadação por fora chegou perto dos R$ 160 milhões.

Não bastasse, a tesouraria nacional do PT começou a sofrer pressão dos diretórios estaduais para ajudar na dívida de R$ 36 milhões deixada pelos candidatos ao redor do País. Delúbio resistiu, lembrando que o PT nacional havia feito os repasses combinados para os Estados e que, depois da eleição, era cada um com seus problemas.

Numa reunião de dirigentes, decidiu-se que o partido encamparia as dívidas estaduais. Delúbio se viu, assim, com um problema de R$ 57 milhões para resolver, antes mesmo da posse. E ainda havia as despesas da própria transição: os gastos com a logística do presidente eleito, viagens, hospedagens e ajuda de custo para os dirigentes do partido e futuros ministros etc. Para culminar, o publicitário Duda Mendonça resolveu celebrar a posse em grande estilo.

Na campanha, a coleta havia sido difícil. Os petistas insistiam em doações no caixa 1. Mesmo com Lula encabeçando as pesquisas, no entanto, os empresários manifestavam receio em ver seus nomes publicamente vinculados ao de Lula. Todos os candidatos enfrentaram o problema, até porque as empresas aproveitam as doações de campanha para desovar dinheiro de seu caixa 2.

De acordo com uma fonte da equipe de arrecadação de José Serra, o montante de dinheiro que entrou pelo caixa 2 foi mais ou menos o equivalente ao da receita declarada ao TSE: R$ 28,540 milhões. Por essa conta, Serra, o segundo colocado nas urnas, teria gastado efetivamente – ou seja, incluindo o caixa 2 – pouco mais de um quarto do que Lula gastou. Para uma fonte do comitê financeiro do PT, a diferença não pode ter sido tão grande. No fim, contabilizou uma dívida de R$ 5,9 milhões.

As dívidas nas costas de Delúbio não eram contabilizadas, mas bastantes reais, com agências de publicidade, a começar pela de Duda – que disse ter apresentado uma conta de R$ 25 milhões -, produtoras de vídeo e eventos, artistas de showmícios, jatinhos, outdoors, gráficas, confecções etc. batendo à porta do tesoureiro já no início de dezembro.

As pressões vinham também de fora. Nesse período, José Carlos Martinez, presidente do PTB, e Valdemar Costa Neto, do PL, apresentaram a Delúbio a fatura do apoio a Lula. No PT, não havia espaço para colocar o problema. A euforia da vitória dera lugar a ferozes disputas na definição de cargos. Delúbio foi a José Dirceu, o então presidente do partido. Foi a Lula. Já tinham problemas demais.

Sozinho, Delúbio não conseguiu dinheiro novo, apenas repactuar e alongar dívidas. Entrou fevereiro de 2003 com uma bomba-relógio na mão. Foi quando surgiu o empresário Marcos Valério para desarmá-la. Dia 17, contraiu o primeiro empréstimo, do total de R$ 55 milhões. O know-how de Valério, um especialista em finanças, provinha do PSDB de Minas. Em 1998, contraiu empréstimo de R$ 8,35 milhões para Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha de Eduardo Azeredo.

Valério viu em Delúbio, uma mente simples, muito próximo de Lula e Dirceu, em busca desesperada de uma saída para os problemas financeiros do PT, a sua chave para os negócios no novo governo. Ele diversificou rapidamente seu modus operandi, passando a enviar parte dos pagamentos a paraísos fiscais, como os R$ 10 milhões na conta Dusseldorf, em Bahamas, para Duda.

Quanto aos empréstimos, disse uma fonte, a filosofia era empurrar com a barriga e liquidar a fatura conforme surgissem oportunidades de negócios no governo para os credores. O importante era não deixar a bicicleta parar. Até que Roberto Jefferson atravessou a pista, meteu o pé nela e a derrubou. 


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