Envolvidos em escândalo estão em melhores condições que as vítimas

Em Porto Ferreira, quem denunciou sofre as consequências; pedófilos, soltos, intimidam e vivem melhor

 

PORTO FERREIRA – T.O. está indo embora para outro Estado. “Quero esquecer tudo”, diz a moça de 18 anos. “Quero voltar só quando tiver 50 anos, quando ninguém mais se lembrar de mim, do que aconteceu na minha casa.” Sua filha de um ano e nove meses vai ficar com a avó, até que T.O. e o namorado de 28 anos, que arranjou emprego no outro Estado, tenham casa para morar.

A menina está bem de saúde; T.O., não. Ela sente fortes dores na coluna, e uma pressão no estômago que a faz vomitar. “Acho que foi porque minha filha me chutou muito durante a gravidez”, interpreta a moça, que estudou até a 7.ª série e sonha fazer medicina. “Ela era muito agitada, acho que por eu ter cheirado cocaína até o quinto mês de gravidez.” Sua irmã, de 19 anos, com três filhos, sofre de enxaqueca e pressão alta. O uso de drogas e os problemas de saúde vêm do tempo em que se prostituíram, com 12 e 13 anos.

Dois dos condenados, já soltos, têm passado devagar com o carro na porta da casa das irmãs, olhando para elas, num recado subliminar de que as coisas não vão ficar por isso mesmo. “Elas têm medo de fazer boletim de ocorrência e ficar pior”, explica o pai das meninas, de 41 anos. “Não compensou muito denunciar. Eles acabaram de sair da prisão, mas não criaram juízo. Não sei se a polícia é fraca ou se não tem competência. Nós, pobres, não temos como nos defender.”

Testemunha do assassinato, em 2007, do jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, que investigou esse e outros crimes na cidade, o pai das meninas teve de deixar um emprego de torneiro mecânico, porque policiais supostamente ligados aos assassinos o perseguiam. “Não saio de casa.” Ele teme pelas duas filhas menores, de 4 e de 5 anos.

Seu irmão e cunhada, que denunciaram a prostituição das sobrinhas, observam que os envolvidos no escândalo de pedofilia estão em melhor condição que as vítimas. Técnica em enfermagem há 24 anos, a tia das meninas não consegue trabalho. Viu anúncio para cuidar de um idoso, mas quando chegou lá, descobriu que o dono da casa era um dos pedófilos. Não foi contratada. “Acho que vou embora de Porto Ferreira. As portas estão fechadas.”

“A gente fica na dúvida sobre se vale a pena denunciar”, disse o pai de outra garota, prostituída aos 14 anos, agora com 20 e mãe solteira. “As pessoas condenadas têm emprego e estão todas aí”, disse o pai, um caminhoneiro de 52 anos. “A gente não tem nada.”

Os 6 vereadores do total de 10 condenados afirmam ter sido vítimas de uma “armação”, por disputas políticas e interesses econômicos. Na cidade circula a história do membro de uma família importante que teria pagado para sair da lista dos réus.


Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*