Ex-gerente detalha como empresa pagou campanha do PT em Ribeirão

Ex-funcionário de gráfica explica esquema usado para Leão Leão pagasse cartazes e faixas das campanhas petistas no interior

 

JARDINÓPOLIS – Luciano André Maglia, ex-gerente financeiro da gráfica e editora Villimpress, de Ribeirão Preto, detalhou para o Estado as denúncias que fez ao Ministério Público sobre o pagamento de material de campanha do PT pelo grupo Leão Leão, responsável pela coleta de lixo e por vários contratos de obras na cidade. Luciano, cuja identidade era mantida sob sigilo até agora, também se defendeu das acusações de desfalque com que seu ex-patrão tentou desqualificar suas denúncias.

Luciano conta que, em 2000, a Leão Leão bancou os cartazes, faixas e “santinhos” rodados pela Villimpress para o então candidato do PT à prefeitura de Ribeirão, Antonio Palocci. Em 2002, o grupo voltou a pagar pelo material de campanha eleitoral de deputados estaduais e federais do PT na região, em que apareciam também os candidatos a governador, José Genoino, a senador, Aloizio Mercadante, e a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. No segundo turno, disse ele, a gráfica confeccionou material de campanha para Lula, dessa vez sozinho, também pago pela Leão Leão. Palocci era coordenador do programa de governo de Lula.

Luciano recorda que os boletos, em 2002, saíam em nome de Juscelino Antonio Dourado, então secretário da Casa Civil de Palocci, e até quinta-feira seu chefe de gabinete no Ministério da Fazenda. Mas as notas fiscais iam para a Leão Leão. Luciano não sabe estimar o valor total dos pagamentos. As notas, que chegavam a ser diárias, variavam de R$ 25 mil a R$ 50 mil. Os boletos eram de valores bem menores, mas em grande quantidade. “Acho que era para confundir.”

O ex-gerente disse ainda que presenciou, em 2002, uma conversa na sala do dono da gráfica, Vilibaldo Faustino Júnior, com Juscelino e Donizeti Rosa, então secretário de Governo de Palocci na prefeitura, e hoje superintendente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), subordinado ao Ministério da Fazenda. Vilibaldo perguntava o que fazer com “o dinheiro que tinha entrado a mais”. “Tem que comprar dólar”, orientaram.

Luciano conta que viu Palocci na gráfica algumas vezes, mas como candidato pedindo voto aos funcionários. Vilibaldo mantinha uma foto sua num porta-retrato no escritório, e o considerava um “grande amigo”. A gráfica prestava serviços à prefeitura, mas Luciano não sabe de irregularidades nesses contratos.

Depois do depoimento de Luciano, na segunda-feira, policiais civis e promotores apreenderam 17 caixas de documentos contábeis na Leão Leão e cerca de 50 notas fiscais na Villimpress, e apuram a denúncia. As duas empresas negaram a história e Juscelino, seu envolvimento. Vilibaldo, que edita a revista Expressão Feedback, não quis falar sobre o assunto. Por meio de sua advogada, Cristiane Heredia, procurou desqualificar o ex-gerente financeiro, acusando-o de ter desfalcado a empresa em R$ 4 milhões. “Você está investigando o Luciano também?”, sugeriu a advogada.

O estilo de vida de Luciano não condiz com o de alguém que tenha roubado R$ 4 milhões. Trabalhando como mascate de produtos de beleza e emagrecimento no interior de São Paulo, Luciano anda numa moto emprestada pelo seu irmão, uma CBX Strada ano 99, avaliada em R$ 4 mil. A casa onde mora, na zona rural de Jardinópolis, a meia hora de Ribeirão, é o que na região se chama de “rancho”: um local para passar o fim de semana, à beira de um rio. Tem três dormitórios, está avaliada em R$ 40 mil e pertence a sua mulher, Luciana. Foi o que restou ao casal, depois que Luciano perdeu todos os seus bens para o seu ex-patrão.

Em fevereiro de 2003, Luciano conta que Vilibaldo veio com a proposta de abrir uma nova empresa em seu nome e no de sua mulher. Não era algo novo para Luciano, que já figurava como sócio da Gráfica e Editora Villigraf Ltda., uma das três firmas registradas no mesmo endereço. Vilibaldo tinha procuração de Luciano para fazer o que quisesse na empresa. “Agora vejo que estava funcionando como laranja”, diz Luciano, de 30 anos, que aos 14 entrou como contínuo na Villigraf, em 1993. “Ele estava apenas usando meu nome para fazer trambique.”

Vilibaldo pediu que o gerente assinasse uma folha em branco, com o timbre do 5.° Cartório de Notas de Ribeirão. O que também não lhe pareceu estranho: “Ele me deixava cheques em branco assinados, e eu assinava o que ele me pedia. Era uma relação de confiança.”

A folha em branco, no entanto, foi preenchida com uma escritura pública de confissão de dívida e dação em pagamento de Luciano. Ali foram incluídos todos os bens do gerente financeiro, com exceção do rancho de sua mulher em Jardinópolis: três casas, sendo duas de conjunto habitacional da Cohab, um Vectra 96 e uma caminhonete Silverado 97, comprada em consórcio no qual Vilibaldo tinha sido fiador. Valor total dos bens: R$ 159 mil.

Luciano conta que estava registrado com um salário de R$ 2 mil, mas que recebia comissões por fora, e sua renda alcançava entre R$ 6 mil e R$ 8 mil por mês. Vilibaldo demitiu Luciano por justa causa, acusando-o de desviar dinheiro de suas empresas.

Luciano entrou na Justiça, pedindo a anulação da confissão de dívida e da transferência de seus bens. Perdeu na primeira instância e recorreu. Desde 2003, aguardava ser chamado pelo Ministério Público. Quando viu o noticiário sobre a denúncia de que a Leão Leão pagava R$ 50 mil por mês para o PT, a pedido de Palocci, resolveu contar o que sabia. 


Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*