FHC promete mostrar força por seu candidato

ESTOCOLMO – O presidente Fernando Henrique Cardoso foi cauteloso ao comentar ontem a eleição presidencial.

 

“Ainda estou na expectativa de uma aliança mais ampla”, disse, respondendo a pergunta sobre como será seu envolvimento na campanha depois da pré-convenção do PSDB, este fim de semana. Ele afirmou que “obviamente” seu candidato será aquele apoiado pelo PSDB, seu partido. “De qualquer maneira, ainda é cedo para eu me envolver.

Vamos ver primeiro como as questões se desenvolvem.”

Segundo Fernando Henrique, se elas “se desenvolverem a contento”, ele vai se envolver, o que não significa que subirá em palanques. “Mas minha opinião como líder político e como presidente da República vai ser sentida com força a favor do meu candidato”, assegurou.

As afirmações foram feitas ao lado do primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien, com quem se reuniu ontem à tarde em Estocolmo, antes da abertura da Cúpula da Governança Progressista, que reúne 13 chefes de Estado e de governo social-democratas. Os dois conseguiram conversar por 50 minutos sobre o cenário mundial, sem tocar em questões bilaterais, como o contencioso comercial entre as fabricantes de aviões Embraer, do Brasil, e Bombardier, do Canadá.

Chrétien, cujo país integra o G-7, o grupo das nações mais ricas, quis saber da situação da Argentina. Fernando Henrique repetiu o apelo para que os países ricos e o Fundo Monetário Internacional (FMI) compreendam que é preciso, primeiro, apoiar a Argentina, e, depois, gradualmente, ir condicionando a ajuda ao cumprimento de metas macroeconômicas.

Empresários — O mesmo apelo foi feito mais cedo, em discurso depois de um almoço com 125 executivos de empresas suecas, investidores e diplomatas. Fernando Henrique citou a Argentina como uma das duas crises externas que o País enfrentou no ano passado – a outra foi o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos -, ao lado da crise interna de escassez de energia. E destacou que, apesar delas, o País registrou crescimento de 2% e inflação de 7%.

Para Fernando Henrique, o Brasil se tornou uma “sociedade aberta e transparente” – não sem um custo, como no caso do saneamento do sistema bancário. “Fechamos vários bancos, e bancos, como os senhores sabem, pertencem a gente rica”, salientou. “Às vezes, pessoas próximas à família do presidente”, arrematou, referindo-se ao Banco Nacional. Seu filho, Paulo Henrique, foi casado e tem duas filhas com Ana Lúcia, irmã de Marcos Magalhães Pinto, preso recentemente por supostas irregularidades nos negócios do antigo banco da família.

Aos investidores, o presidente disse que, independentemente do resultado das eleições, “é difícil que haja uma mudança de direção” no País. Também aí ele comentou a campanha. “Estou confiante de que o meu pessoal – não sei quem – ganhará. Ainda que não ganhemos, o que tem sido feito é forte o suficiente.

A estrada para o progresso é uma realidade no Brasil.”

Fernando Henrique destacou a imprevisibilidade do processo eleitoral – “algumas vezes, depende do que acontece até na semana eleitoral, e não no semestre eleitoral” – e brincou sobre os políticos da base no Congresso.

“Eles são muito flexíveis, mudam de tempos em tempos”, disse, sorrindo.

Para alguns dos mais importantes executivos no restaurante, Fernando Henrique foi convincente, mas a preocupação com a exposição do País às crises e com os rumos escolhidos pelo governo que for eleito permanece.

“Fizemos uma grande aquisição no Brasil em 1996”, lembrou o presidente da Electrolux, Michael Treschow, referindo-se à compra da Prosdócimo. “Tivemos sucesso em apenas um ano e, de lá para cá, vivemos de crise em crise.”

Leif Östling, presidente da Scania, que tem investidos no País US$ 400 milhões, foi pelo mesmo caminho. “O Brasil é importante para nós, mas antes de fazermos novos investimentos precisamos de mais mercado, mais demanda.”

Ao contrário, a Volvo ainda vê espaço para investir e quer começar em 2003 a fabricar no País um caminhão de carga muito pesada. A empresa aguarda com expectativa a missão de empresários brasileiros, no mês que vem, a Estocolmo. “Estamos tentando encorajar nossos fornecedores de médio porte no Brasil a se tornarem nossos fornecedores globais”, explicou o presidente da Volvo, Leif Johansson.

Colômbia — Mais cedo, após café da manhã com o primeiro-ministro sueco, Göran Persson, Fernando Henrique garantiu que o fracasso do processo de paz e o recrudescimento do conflito na Colômbia não oferecem riscos para o Brasil. “O campo de lutas é muito longe. Nossa fronteira com a Colômbia é selvática, com pequenas exceções, e nunca houve penetração”, argumentou. Ele disse ter sido informado da siatução pelas Forças Armadas antes de viajar para Estocolmo, quinta-feira. “O Brasil tem condições de defesa suficientes. Nós temos lá sempre uma situação de alerta.”

Fernando Henrique apoiou a decisão do governo colombiano de retomar a “zona desmilitarizada” ocupada por três anos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Creio que o governo da Colômbia não tinha alternativa”, disse. “Depois de tantas tentativas de paz, por causa da insistência de alguns setores guerrilheiros em continuar a fazer seqüestros e desafiar a autoridade governamental, ou bem essa autoridade se impõe ou não há mais condições de ela se manter.” 

 

 

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