Gestões de Dilma provocam polêmicas

Ex-prefeitos que hoje apoiam o PT negam que ela tenha deixado vazio o cofre da Prefeitura de Porto Alegre

 

Ao contrário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem emprestou o apelo popular, a sucessora dele não tem carisma. O maior trunfo pessoal de Dilma Rousseff é a imagem de competência técnica e gerencial. Desde o começo de sua carreira pública, Dilma tem tido essa imagem confirmada por alguns e questionada por outros.

Foi esse o alvo do jornalista especializado em economia Políbio Braga, que a sucedeu na Secretaria da Fazenda de Porto Alegre, o primeiro cargo público de Dilma, na época no PDT. Braga gravou depoimento no programa de Serra, no qual afirmou que Dilma foi “incompetente”, e deixou o caixa vazio, ao sair da prefeitura em setembro de 1988 para coordenar a campanha de seu então marido, Carlos Araújo, a prefeito de Porto Alegre.

Alceu Collares, o prefeito da época, que continua no PDT e apoia Dilma, nega as afirmações de Braga. “Dilma é competente e capaz”, garante Collares, hoje membro do Conselho de Administração da Usina de Itaipu. “Ele (Braga) é que foi um fracasso. Tinha momentos que achávamos que ele não sabia contar. É um direitista e diz isso por inveja.”

Collares foi sucedido na prefeitura por Olívio Dutra, do PT, então rival local do PDT. Os jornais da época registram o desespero de seu secretário da Fazenda, o também petista João Verle, ao encontrar o cofre vazio e débito em caixa de Cz$ 4,97 bilhões (R$ 45,93 milhões em valor de hoje), enquanto a receita do município era de pouco mais de Cz$ 6 bilhões (R$ 55,44 milhões). Olívio, que como Collares faz hoje campanha para Dilma, garante que os problemas foram causados por Braga, não por ela.

Em 1993, Collares, já governador do Rio Grande do Sul, nomeou Dilma secretária de Energia, Minas e Comunicações. Olívio Dutra, que sucedeu a Collares, manteve-a no cargo. Na época, deficiências na rede de transmissão causavam cortes no abastecimento de energia. Dilma reuniu as empresas públicas e privadas do setor e identificou a solução do problema: fechar o anel de transmissão do Estado.

“Ela conseguiu uma coisa muito difícil – só não digo impossível porque ela fez”, recorda Paulo Milano, na época coordenador do Grupo Temático de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul. “Havia dúvidas sobre a quem competia fazer e pagar. Ela disse: ‘Vamos fazer e depois discutimos quem vai pagar’.” Milano acrescenta: “Não concordo necessariamente com ela, mas ela foi líder, fez todos trabalhar.” O prefeito de Uruguaiana, José Sanchotene Felice, ex-presidente do PSDB do Rio Grande do Sul, apoiou Serra. Mas elogia a gestão de Dilma: “Ela foi uma boa secretária.”

Não é a impressão da advogada Magda Brossard Iolovitch, que foi diretora jurídica da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) no governo de Germano Rigotto (PMDB), sucessor de Olívio. Filha do ex-ministro da Justiça Paulo Brossard, Magda afirma que um projeto mal concebido, de uma termoelétrica em Montenegro (44 km ao norte de Porto Alegre), nunca tirado do papel, causou prejuízo aos cofres públicos. Foram compradas duas turbinas, no valor de US$ 100 milhões, que acabaram não sendo usadas, e vendidas a US$ 43 milhões.

Magda afirma que não foi feito estudo de viabilidade. A usina, batizada de Termogaúcha, pressupunha o abastecimento de gás pela Argentina, mas o País não tinha o excedente de combustível para atendê-lo. O diretor de Geração da CEEE era Valter Cardeal, hoje diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobrás, acusado de fraude em processo movido por um banco alemão.

Procuradora do Estado aposentada, Magda afirma também que a CEEE, sob a gestão de Olívio e de Dilma, pagou R$ 600 milhões em indenizações trabalhistas sem questionar o cálculo dos valores e sem defender os interesses da empresa estadual. Já Olívio afirma que foi ele que encontrou essa situação e a mudou: “Mexemos num ninho de advogados da CEEE, que não cumpriam prazos e jogavam com pau de dois bicos. Recebemos essa herança do governo anterior (de Antonio Brito, do PMDB), que transferiu o passivo trabalhista para o próximo governo.”

O anel de transmissão acabou com os até então frequentes blecautes no Rio Grande do Sul. Mas o Estado continuou não interligado à rede nacional. Isso se tornou vantagem quando veio o “apagão”, em 2001. Dilma convenceu o governo federal, na época do presidente Fernando Henrique Cardoso, de que o Rio Grande do Sul não precisava fazer racionamento. “A grande estiagem ocorreu nos Sistemas Leste e Nordeste, onde estão localizadas as grandes hidrelétricas do País”, recorda Valdir Andres, que a sucedeu na Secretaria de Energia, Minas e Comunicação. “Na Região Sul não ocorreu a estiagem, consequentemente a energia pôde ser consumida na nossa região já que seria inócuo não consumir a energia que não poderia ser exportada.”


Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*