Mas o crescimento é real

Tecnicalidades à parte, o mercado sente que, mesmo não tendo havido explosão, o turismo no Brasil, sobretudo o doméstico e o originado no Mercosul, mas também o proveniente da Europa, tem crescido de forma consistente.

Entre 1995 e 1999, os desembarques aéreos domésticos saltaram de 16,8 milhões para 26,7 milhões e os internacionais, de 3,3 milhões para 4,9 milhões. De 1999 para 2000, os vôos charter (fretados para pacotes turísticos) internacionais aumentaram de 1.094 para 1.934. Desses, 1.779 foram provenientes da América do Sul, sobretudo Argentina e Chile. No mesmo período, o número de cruzeiros aumentou de 83 (ou 128 mil passageiros) para 94 (145 mil).

O turismo interno por meio de pacotes ganhou impulso, antes mesmo da desvalorização do real, ocorrida em janeiro de 1999. De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), dos pacotes turísticos vendidos em 1996, 30% eram domésticos e 70%, internacionais. Em 1997, a proporção passou para 40% domésticos e 60% internacionais; no ano seguinte, para 49% a 51%; e chegou, em 1999, a 60% domésticos e 40% internacionais.

O êxito do turismo doméstico e originário do Mercosul reflete uma tendência:

80% das viagens no mundo são de curta distância – até seis horas de duração.

Os vôos diretos dos pontos mais ocidentais da Europa para o Nordeste duram isso. Mas os regulares são muito poucos: a TAP faz Lisboa-Recife todos os dias, menos quarta-feira e, às quartas e sextas, Lisboa-Fortaleza, percurso que a Transbrasil faz às sextas; a Varig oferece Milão-Recife-Fortaleza às terças e Miami-Fortaleza-Recife, às segundas. E é só.

Viajar 11 horas até São Paulo ou Rio e depois pegar um vôo pinga-pinga até o Nordeste não é exatamente o ideal de férias de um turista europeu. “Para qualquer lugar que você vá no Brasil, tem de ir antes a São Paulo”, queixa-se a alemã Barbara Hesse. Ela e o marido, Rudolf, ambos de 62 anos, moram em Waldshut, a meia hora de carro de Zurique, onde pegaram o vôo da Swissair para São Paulo. Descansaram uns dias, assistiram ao desfile de carnaval paulistano e, na terça-feira, embarcaram às 11h no vôo da Varig para Natal, que vai antes a Fortaleza (mais ao norte!), estendendo-se por quatro horas.

São comuns esses vôos do Sudeste para o Nordeste no meio do dia, que empatam tanto a manhã quanto a tarde do viajante. “Estamos perdendo o dia todo”, concluíram os Hesse.

A questão-chave, aqui, é aumentar o número de vôos charter. “O mercado de massa do turismo receptivo é extremamente sensível a preço e, para atingir os consumidores consolidados dos Estados Unidos e da Europa, são necessários os vôos charter, que saem com 100% de lotação e por isso oferecem passagens mais baratas”, diz Osires Silva, presidente da Varig, que tem uma charteadora, a Rotatur. “Até a `circunspecta’ Lufthansa está fazendo vôos charter para o Brasil.”

Entre 1999 e 2000, os charters da América do Sul para Florianópolis, Porto Seguro e Salvador (o Departamento de Aviação Civil os lista juntos) subiram de 1.011 para 1.779; da Europa para Fortaleza, Maceió e Natal, de 62 para 143.

O diretor de Investimentos da rede de hotéis Marriott, Flavius Ferrari, é otimista quanto a esse ponto. Ele foi pioneiro em Cancún, em 1980, quando havia apenas seis hotéis no balneário mexicano. “Tínhamos de pedir à American Airlines pelo amor de Deus para ir a Cancún”, lembra o executivo. A companhia propôs o seguinte: desceriam no balneário se os hotéis garantissem pelo menos 60 passageiros. Cada hotel comprou dez assentos em cada vôo e assim começou o hoje congestionado tráfego aéreo da cidade.

Ferrari acha que os cinco grandes hotéis na Costa do Sauípe, o resort inaugurado em dezembro, 76 quilômetros ao norte de Salvador, podem conseguir o mesmo. Os hotéis, pertencentes a três cadeias, Accor, Marriott e SuperClubs, com 1.600 quartos, estão negociando com a Varig e United Airlines vôos São Paulo-Miami-Salvador.

O governo – e um financiamento de US$ 670 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento – têm dado uma mão ao Nordeste: de 1995 para cá, sete aeroportos construídos ou ampliados, 389 quilômetros de estradas pavimentadas e quase 23 mil metros quadrados de patrimônio restaurado.

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