Nada supera impacto positivo da pesquisa no agronegócio

Para Ipea, trabalho da Embrapa mostra mais resultados que crédito e abertura comercial

 

 

BRASÍLIA – Negócio de R$ 447 bilhões (um terço do PIB brasileiro), a agropecuária é o setor que mais emprega e mais cresce no País. Entre 1999 e 2002, a economia brasileira cresceu em média 2,32% ao ano. Já a produção agropecuária cresceu quase o dobro disso: 4,29%. A safra de grãos aumentou 9,49% em 2003, mantendo a área de plantio quase inalterada. Entre 1990 e 2002, a criação de aves cresceu 223%; a de gado, 125%; a produção de leite, 45%.

A principal responsável por tudo isso é a Embrapa. Estudo recém-publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que nem o crédito rural nem a infra-estrutura nem a abertura comercial tiveram impacto tão forte quanto a inovação tecnológica. “Os gastos da Embrapa são principal fator explicativo de longo prazo para o crescimento da produtividade da agropecuária”, afirma o estudo, que propõe a criação de uma empresa de pesquisas nos mesmos moldes também para a indústria.

“Aqui em Mato Grosso, assim como em todo o País, a Embrapa tem sido uma grande parceira da sociedade, em geral, e dos produtores rurais, em particular”, elogia o governador Blairo Maggi, o “rei da soja”. “Temos projetos conjuntos com instituições de pesquisa locais, inclusive as organizadas pelos próprios produtores. São parcerias promissoras.”

Aliada – “Tudo o que você vê de bom na pecuária e na agricultura do Brasil tem a participação da Embrapa”, diz o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Olavo Borges Mendes. “O Brasil se tornou o maior exportador de carne graças à genética, à sanidade animal e aos alimentos, a variedade de capins, a soja, a cana, etc.”, enumera o produtor. “A Embrapa é uma grande aliada da ABCZ.”

A associação e a Embrapa, que há 25 anos trabalham juntas na seleção de touros para aumentar a precocidade do gado, acabam de firmar novo convênio de melhoramento genético. Tanto a ABCZ quanto a empresa tinham programas próprios, que agora serão unidos.

As parcerias da Embrapa com universidades, outros órgãos de pesquisa públicos e com a iniciativa privada chegaram a somar de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões por ano. No ano passado, o volume foi de R$ 50 milhões. Os críticos atribuem a queda às reservas da nova gestão em relação ao agronegócio. O presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, nega o problema e diz que o montante está na média dos últimos anos.

A falta de sintonia entre Campanhola e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, empresário do agronegócio e entusiasta dos transgênicos, também estaria prejudicando as gestões políticas para angariar recursos para a Embrapa. Para o presidente da Embrapa, isso não procede: o orçamento de custeio deste ano, R$ 224 milhões, representa um aumento de 36% sobre o ano passado, que foi de R$ 165 milhões. E, segundo ele, “há sinais de que não haverá contingenciamento para pesquisa neste ano”.

“Os pequenos agricultores podem e devem ter assistência, mas não podemos esquecer que a pesquisa é um trabalho fundamental para nós e não pode ser deixada de lado”, diz o presidente da ABCZ, referindo-se à nova orientação da Embrapa. “Nossa atividade precisa da Embrapa.”

“A agricultura empresarial contribui muito mais para a inclusão social, gerando empregos e pagando impostos, do que uma visão tacanha de agricultura familiar voltada para a subsistência”, adverte Mônica Bergamaschi, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag). Para ela, o importante é dar condições para o agricultor “crescer e sair dessa condição”.

Mônica acha que o maior entrave para o desenvolvimento de tecnologia, hoje, está na legislação, que impede que pesquisas com transgênicos sejam levadas a campo para serem testadas e depois comercializadas. “Não adianta desenvolver pesquisa e guardar na prateleira”, diz a presidente da Abag, que era dirigida pelo ministro Rodrigues.

Outro gargalo é a falta de extensão rural. As empresas estaduais de assistência técnica (Ematers) sofrem com a falta de técnicos e recursos para prestar serviço aos agricultores. Muitas das inovações desenvolvidas pela Embrapa morrem na praia porque não chegam até os produtores rurais. Mas a Embrapa certamente não tem como resolver isso. “A Embrapa não fará extensão rural”, descarta Campanhola. “Vamos continuar divulgando a tecnologia, como já fazíamos antes.”


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