No almoço para Putin, filé. E brinde com cachaça mineira

Lula não demove presidente russo do embargo, mas Itamaraty o faz comer carne brasileira

 

 

BRASÍLIA – A diplomacia presidencial não conseguiu demover Moscou do embargo, mas o Itamaraty fez a sua parte servindo carne brasileira no almoço oferecido ontem ao presidente russo, Vladimir Putin, e sua comitiva de 20 pessoas. Como prato principal, foi servido filé mignon ao boursin (um queijo francês) e pimenta verde – que chegou frio, aparentemente por causa de um problema no forno do Itamaraty, combinado com o atraso de 1h40 da chegada dos convidados, às 14h40.

Putin também teve de abandonar a rotina semi-abstêmica para provar da cachaça mineira oferecida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Hoje o brinde não será com champanhe nem com vinho”, anunciou Lula. “Embora o presidente Putin tenha dito que não bebe bebida de alto teor alcoólico, vamos comemorar a visita dele com uma típica cachaça brasileira.”

“Durante muitos anos estive para visitar a Rússia, mas sempre havia um problema político que me impedia de fazer a viagem”, recordou Lula. “Não importa agora dizer quem causava os problemas”, continuou, evitando uma nova polêmica com os militares. “O que era grave é que muitas vezes, até como dirigente sindical, fui impedido de ir à Rússia.” E acrescentou que no próximo ano, “se Deus quiser”, visitará Moscou.

Lula seguiu improvisando, com pausas para o intérprete de Putin traduzir: “Como sei que a Rússia é um país que pratica muito esporte e, apesar de não ganhar do Brasil, joga bom futebol, gostaria de presentear o presidente Putin com o DVD Pelé Eterno. Não tem importância que ele não entenda português, porque a arte de Pelé não fala, age”.

O convidado sorveu um gole da cachaça Sabor de Minas, de Salinas. “Depois de dizer que o futebol russo é bom, considero-o duplamente um amigo de verdade”, agradeceu Putin. “O futebol russo é horrível.” Putin continuou: “Estamos seguindo com atenção o crescimento da influência e da popularidade do Brasil no mundo. Desejo sinceramente todo o êxito”. E ergueu novo brinde.

À mesa de Lula e de Putin, estavam o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, os presidentes do Senado, José Sarney, e do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Os demais convidados ocupavam 20 mesas de 8 cadeiras cada, que levavam os nomes de praias brasileiras. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sentava-se à mesa Copacabana ao lado de uma cadeira vazia, reservada para a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que foi a uma reunião com representantes da Gazpron, gigante russa do gás.

Na entrada do Itamaraty, as bandeiras do Brasil, da Rússia e do Mercosul estavam a meio pau, por causa do luto oficial pela morte do economista Celso Furtado. Às 16h10, os russos saíram às pressas. Em sua primeira visita ao Brasil – e de um chefe de Estado russo –, Putin queria chegar ao Rio ainda com luz, para apreciar a paisagem de cima. 


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