O jogo ficará mais pesado

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que exportação não é o único paradigma de sucesso. As empresas nacionais respondem por três quartos do setor (ver quadro ao lado).

 

Contribuem com a balança comercial, se não exportando, evitando que se importe mais. O que assombra os especialistas são as perspectivas de crescimento exponencial do mercado — e a eventual dificuldade da indústria local de atendê-lo, que poderia levar a uma explosão do déficit comercial do setor, hoje de US$ 900 milhões.

Silvio Meira estima que, com a intensificação brutal do emprego de chips e programas, o mercado brasileiro atinja facilmente os US$ 10 a US$ 15 bilhões no fim desta década. O jogo tende a se tornar mais pesado. A Microsoft, que reina soberana no ramo dos editores de texto e outras ferramentas que funcionam sobre plataformas de padrão mundial, dá passos na direção dos softwares de gestão, ou ERP (enterprise resource planning), o espaço segmentado do atendimento a empresas, no qual os brasileiros são capazes de competir.

“Se ela achar difícil operar aqui, vai comprar uma empresa local”, prevê o consultor Alfredo Behrens. Essa aquisição poderia dar início a uma caçada predatória. “A primeira empresa custa uma fortuna. A segunda não vale nada.”

Mesmo antes de padecerem num eventual duelo de gigantes, as maiores empresas brasileiras, que não faturam mais de R$ 200 milhões cada — o que as colocaria entre as médias e pequenas nos EUA e na Europa — já travam uma luta desigual com as concorrentes estrangeiras.

As transnacionais chegam com os custos de desenvolvimento já pagos pelas vendas nos mercados de origem. Aqui, gastam apenas com marketing, enquanto as brasileiras ainda têm que recuperar o investido. Pelo mesmo motivo, as empresas locais são mais afetadas pela pirataria que as estrangeiras.

Por outro lado, as companhias brasileiras levam vantagem competitiva em razão das idiossincrasias da economia e da legislação no País. “Nos EUA nunca houve URV nem CPMF”, sorri Paulo Caputo, diretor de Operações e Novos Negócios da Datasul, de Joinville (SC). Enquanto várias empresas estrangeiras fugiram da Argentina, o volume de vendas da Microsiga, de São Paulo, dobrou no último trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado.

A Microsiga tem lançado mão de franquias no exterior, com empresários locais, para conhecer as necessidades dos potenciais clientes e oferecer-lhes soluções melhores e mais baratas. São 50 unidades, em 7 países latino-americanos. Já a Datasul fez parceria com a americana Foresight, e tem planos de aquisições nos EUA.

Todo mundo no setor está convencido de que o gargalo não está na qualidade do produto, mas na capacidade de chegar até o cliente e de vender. A Índia, exemplo de sucesso sempre citado, entrou no mercado americano — mais da metade do mercado mundial — graças à presença maciça de pesquisadores indianos no Vale do Silício, que estavam no lugar certo na hora certa para dizer aos americanos: “Sei quem pode fazer isso mais barato no meu país”.

O que os indianos fazem é escrever programas desenhados nos EUA, enquanto o filé do valor agregado está em criar soluções. “Não que não interesse ao Brasil a escrita de software. Estão crescendo fábricas que fazem isso no País”, diz a secretária Vanda Scartezini. Mas o perfil do profissional brasileiro é o do criador de soluções. E é difícil ganhar esse mercado lá fora, com empresas pequenas e descapitalizadas.


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