O maior desafio, agora, é ganhar dinheiro

Cluster de tecnologia cria ‘comunidades virtuais’ para impulsionar negócios

 

SÃO CARLOS – O que o pólo tecnológico de São Carlos tem de emocionante é a realização do velho sonho de unir o conhecimento produzido na universidade e o mercado, transformando projetos de pesquisa em produtos e cientistas em empresários. Mas não se trata de uma obra acabada.

“Falta dar dinheiro”, constata o economista Osvaldo Gouvêa, sócio da Radium Systems, uma empresa de consultoria em gestão de ambientes virtuais. “Na verdade, você tem um monte de gente pobre com alta competência.”

Segundo estimativa de Sylvio Rosa, presidente da Fundação ParqTec, as 150 empresas do pólo de São Carlos faturam em média R$ 200 mil por ano, empregando cerca de 4 mil pessoas a um salário médio de R$ 1 mil. Todos têm, no mínimo, o curso médio completo. Mais da metade dos donos das empresas tem ou está cursando pós-graduação.

“A USP está ampliando o câmpus, colocando mais engenharia, mais computação e mais aeronáutica. Falta uma escola de business”, observa Penido Stahlberg Filho, sócio da SV Consultoria e Tecnologia, uma das bem-sucedidas empresas do pólo. Com 70 profissionais, dos quais 3 doutores e 20 mestres, a SV, especializada em cartões inteligentes, fez o bilhete único do transporte de São Paulo e o sistema de leitura de íris para identificação no Palácio do Planalto.

“Quando a gente sai da faculdade, tecnicamente, a gente mete a cara, mas temos de aprender a ser empresários, ou delegamos o que sabemos fazer, ou ficamos estagnados”, diz Edson Minatel, da Ablevision.

Rosa conta que já obteve do CNPq US$ 25 mil para a realização de oito cursos de empreendedorismo, como cadeiras dos cursos de computação da USP e da Ufscar. “Queremos a vulgarização do conhecimento empreendedor na universidade”, diz ele.

Está, também, em gestação, a criação de um Science Park, numa área de 164 mil metros quadrados doada pela Prefeitura de São Carlos, que abrigará um condomínio com 35 lotes para empresas de alta tecnologia, além de uma nova incubadora, com capacidade para 125 empresas. O prédio terá o estilo arquitetônico da sede da fazenda do Conde do Pinhal, do século 18, numa referência à pujança econômica do ciclo do café.

Para esse projeto, a ParqTec já garantiu verbas de R$ 475 mil da Finep, R$ 650 mil da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado e R$ 108 mil do Sebrae de São Paulo.

Redes – Osvaldo Gouvêa acha que a chave para o crescimento das empresas está na criação de comunidades virtuais para que elas possam buscar complementaridades e ganhar escala, seja como fornecedoras ou como clientes. As oito empresas do cluster de tecnologia de São Carlos têm trabalhado para criar “arranjos produtivos virtuais”, aglutinando empresas que estão dispersas pelo País.

O cluster comercializa uma ferramenta criada pelo Instituto Fábrica do Milênio, uma rede de mais de 400 pesquisadores de 19 instituições do Brasil e mais 3 do exterior. A ferramenta permite a quem não entende de programação criar um portal corporativo com base no modelo de comunidade. Com ele, as empresas podem comprar e usar serviços bancários de forma cooperada e ter acesso a canais de informações sobre finanças, riscos, produção, desenvolvimento, etc.

A rede tem possibilitado trocas de conceitos e experiências entre áreas que não costumavam conversar entre si. “Estamos adaptando conceitos do setor metal-mecânico para a construção civil”, diz o professor Fábio Guerrini, da engenharia de produção da USP de São Carlos. “A idéia é tratar uma obra como se fosse uma rede: uma empresa depende da outra.” O grupo quer extrapolar o conceito de colaboração, que dura enquanto a obra estiver sendo realizada, para o de cooperação permanente entre as empresas.

Mas Guerrini acha que a indústria metal-mecânica também tem o que aprender com a construção civil. Exemplo: numa obra de metrô, em que o quilômetro custa US$ 30 milhões, um dia de atraso implica pesadas multas sobre os responsáveis, pela perda de arrecadação nas catracas.

Da mesma maneira, o fornecedor, seja interno ou de outra empresa, também deve responder pelo custo de seu atraso. “Estamos estudando como viabilizar uma rede de cooperação entre fábricas dispersas em diversos locais, como se estivessem juntas numa única fábrica”, explica Guerrini.

A mesma mentalidade é posta em prática pelo cluster de empresas de tecnologia de São Carlos. “Desenvolvemos uma tecnologia que mapeia pessoas com interesses comuns e estrutura uma forma para elas trabalharem juntas e assim terem mais competitividade”, diz Gouvêa. A tecnologia serve para qualquer segmento. Mas os primeiros a se beneficiarem dela podem ser as próprias empresas de tecnologia. 


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