Origem social do cadete e formação estão melhorando

Exército desmente “proletarização” e enfatiza “educação holística”, para formar oficial “integrador”

Não é raro ouvir falar da “proletarização do Exército”. O perfil sócio-econômico dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, a escola dos futuros oficiais do Exército, em Resende (RJ), desmente essa noção (ver quadro ao lado). “Ao contrário, houve uma ligeira ascensão social”, observa o ministro do Exército, general Gleuber Vieira. “No curso preparatório que dá acesso à Aman, apresentaram-se, este ano, 13 mil candidatos, para 500 vagas”, comemora o ministro. O general acha que a explicação para essa procura não está na remuneração, mas na busca de segurança – que diferencia a carreira militar das profissões civis, sobretudo em tempos incertos como os atuais.

Não é só por indicadores quantitativos que se mede a melhoria do nível dos oficiais brasileiros. Nos últimos anos, o Exército tem enfatizado o que o ministro chama de “educação holística”. Ao lado dos aspectos cognitivo e psicomotor, o Exército tem procurado desenvolver também a formação na esfera “afetiva”. A modernização do ensino no Exército tem como finalidade a formação do militar em três níveis:

1) O combatente tradicional, que deve ter desenvolvidos os seus atributos físicos, conhecimentos e caráter.

2) A função – também histórica – do militar como “integrador”, que, quando comandante de uma unidade, é capaz de interagir com a comunidade e as autoridades civis locais, em qualquer parte do território nacional. Ele representa o Exército, executando a tarefa da “presença” no País.

3) O representante do Exército e do Brasil no exterior, seja nas missões internacionais de paz, seja como adido militar em embaixadas, em programas de intercâmbio ou em conferências. Nessas atividades, o militar deve somar as habilidades do “integrador” nacional ao conhecimento de idiomas, da realidade local do país onde vá servir, da política externa brasileira e assim por diante.

Para atender a essas demandas, segundo o ministro, o Exército tem modernizado a abordagem pedagógica e investido na infra-estrutura do ensino. “O sentido global, integrado e contínuo do ensino sempre foi política do Exército, mas se tem intensificado nos últimos anos”, garante o general Gleuber. O objetivo, segundo ele, é fazer com que “o militar seja capaz de reciclar a si mesmo”. Isso porque o equipamento que ele aprendeu a usar na Aman estará obsoleto poucos anos depois. “É uma ilusão achar que se pode ensinar tudo na escola”, diz o ministro. “O importante é capacitar o militar a buscar o conhecimento de que necessite.”

A Marinha e a Aeronáutica sempre foram mais elitizadas e profissionalizadas do que o Exército e têm enfoque parecido quanto ao tipo de formação que se deve dar. Entretanto, há uma diferença de nuance entre o Exército e a Marinha, de um lado, e a FAB, de outro, na ênfase dada à formação. No Exército, principalmente, mas também na Marinha, costuma-se dizer que formação é prioridade absoluta porque “o homem não se forma da noite para o dia, enquanto equipamento adquire-se, em caso de necessidade” – ou seja, de guerra. “Não é bem assim”, dizem oficiais da FAB, a mais afetada pela obsolescência de equipamento e escassez de recursos – como combustível – para treinamento. “Não adianta comprar avião de última hora sem ter oficial treinado para pilotá-lo.”

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