País é estratégico para as grandes redes hoteleiras

A taxa de ocupação dos hotéis no Brasil não acompanhou o aumento do turismo. Entre 1997 e 1998, ela caiu de 62% para 61% e, no ano seguinte, para 59%, segundo a Horwath Consulting.

A razão disso, no entanto, é a profusão de novos hotéis. E aqui está o indício mais firme do crescimento do turismo – ou do otimismo em torno dele.

Entre 1995 e 1999, segundo a Embratur, os investimentos privados em novos projetos turísticos somaram US$ 6 bilhões, envolvendo a construção de 300 hotéis e 10 parques temáticos, além de centros de convenções, pousadas e flats, criando 140 mil empregos diretos e 420 mil indiretos.

A rede Accor administra 98 hotéis no Brasil; em 2003, serão 157; a Choice, hoje com 6, passará a 55; a Meliá, de 14 para 43; a Transamérica, de 14 para 29; a Blue Tree, de 16 para 29. E assim por diante. O número de redes hoteleiras instaladas no Brasil subirá de 26 para 30 e o total de hotéis sob administração delas saltará de 243 para 464. Essas projeções, feitas há alguns meses num estudo para o grupo Accor, já estão defasadas: várias redes anunciaram novos projetos desde então.

As redes americanas e européias, ao fincar seu pé num destino, começam a promovê-lo perante as grandes operadoras de viagens nos países de origem. “A Europa está na moda no Brasil”, exagera o presidente da Embratur, Caio Luiz de Carvalho, eleito em fevereiro, em Madri, presidente do Conselho Executivo da Organização Mundial de Turismo.

Carvalho voltou essa semana da feira de turismo de Berlim, a maior do mundo, com uma lição e algumas boas notícias. “O empresário brasileiro tem de aprender a segmentar sua ação de marketing”, diz ele. “Em vez de tentar vender um destino inteiro, deve restringir-se a um segmento, como turismo de saúde, cultural, pesca esportiva, etc.”

As boas notícias: um acordo entre a Varig e a Lufthansa dará origem a novos vôos regulares e a um aumento estimado de 100 mil turistas alemães no Brasil dentro de 12 meses; a grande operadora de charter Condor entrará no País, trazendo 400 passageiros por semana para a Bahia; a KLM passará a trazer 500 turistas holandeses por semana, num pacote “curiosíssimo”: eles chegam pelo Ceará e seguem depois para Tocantins, Goiás e Foz do Iguaçu. “É a interiorização do turismo brasileiro”, entusiasma-se o presidente da Embratur.

Flavius Ferrari ilustra a importância estratégica do Brasil com o seguinte dado: a Marriott, uma das maiores redes de hotéis do mundo, mantém quatro escritórios de desenvolvimento, um em Washington, outro em Genebra, em Hong Kong e em São Paulo. A rede espalha-se no Brasil simultaneamente em todas as direções: Rio de Janeiro, Trancoso, Porto Alegre, Manaus, Brasília, Angra dos Reis, Bonito, Natal etc.

“As oportunidades aqui são muito boas”, resume Toni Sando, gerente de marketing do grupo Accor, com 3.600 hotéis no mundo. “É um mercado carente de bons produtos.”

“A América do Sul é o grande segmento ainda inexplorado”, acrescenta Jorge Nishimura, vice-presidente do grupo brasileiro Blue Tree, com 16 hotéis hoje e no mínimo mais 13 até 2003. “Nos Estados Unidos, (o ramo hoteleiro) cresce muito pouco, a Europa está saindo de uma crise na hotelaria e, na Ásia, a crise econômica acabou com a hotelaria.” Na América do Sul, o Brasil é o grande mercado e, dentro dele, São Paulo, com sua vocação para o turismo de eventos e de negócios.

São Paulo é um canteiro de obras de hotéis. A cidade, que hoje tem 25 mil quartos de hotel, deve chegar a 2003 com 48 mil. O bairro de Moema, que hoje abriga oito hotéis, terá mais de 20 dentro de um ano e meio. Operadoras e consultores confessam certo receio de excesso de oferta, com conseqüente queda na taxa média diária e, claro, na rentabilidade. Entre 1999 e 2000, a diária média dos hotéis cinco estrelas já caiu 3%, de US$ 225 para US$ 218.

Mas a fé dos investidores parece inabalável. A estabilidade monetária, a queda dos juros e o crescimento da economia abrem caminho não só para recursos externos como para a formação de um contingente de interessados em diversificar seus investimentos. Os brasileiros têm predileção pelos patrimônios imobiliários, que inspiram solidez, num país de instituições frágeis.

O negócio da hotelaria, mediado por consultorias e sofisticado pela entrada em cena das grandes redes, com suas dinâmicas centrais de reservas e aparatos de marketing, representa uma versão lucrativa de patrimônio imobiliário.

Entre os investidores de peso, destacam-se fundos de pensão como o Previ, do Banco do Brasil, e o Funcef, da Caixa Econômica Federal, e as grandes construtoras. Mas há, também, o investidor menor, que participa dos empreendimentos adquirindo um ou mais apartamentos.

Os especialistas antevêem, em poucos anos, um problema de excesso de oferta de quartos, com a profusão de empreendimentos em São Paulo e noutras cidades do Brasil. Aí, diz Manuela Gorni, da Horwath Consulting, quem terá problemas serão os hotéis mais antigos, que não modernizaram gestão, instalações e serviços. “Ninguém quer pagar R$ 100 e ficar em espelunca.” Em cada categoria, para o mesmo preço da diária, haverá hotéis novos e melhores.

Com exceção dos hoteleiros ruins (ou descapitalizados), todos tendemos a ganhar com a efervescência. Cada quarto de hotel equivale a um emprego – até um teto de 1.500 quartos. E, pelo padrão mundial, a cada emprego direto criado pelo turismo, correspondem outros oito indiretos.

Os hotéis melhoram os lugares onde chegam. Embelezam e valorizam áreas feias e pobres, ocupam taxistas e engraxates, e as bancas de revistas, frutarias e padarias passam a vender mais. E, o que é ainda melhor: são investimentos 100% privados. Ao contrário do que ocorre com outros setores, que acabam gerando muito menos empregos, o governo não precisa botar a mão no bolso.

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