PT deve continuar diferente, diz Marco Aurélio Garcia

Estratégia agora é a adoção de um projeto desenvolvimentista, cuja referência é JK

 

Transformar a diferenciação em valor hegemonicamente aceitável. É assim que o historiador Marco Aurélio Garcia, um dos mais conceituados teóricos do PT, formula o grande desafio do partido. De acordo com Garcia, no esforço de aumentar seu número de votos e a amplitude da coalizão partidária que lidera, o PT não dará passos rumo à semelhança com o bloco que lidera o País, mas, sim, seguirá na trilha da diferença.

“Embora nos cause problemas, vamos manter a linha da diferenciação”, afirma Garcia. “Os que atribuem nossa debilidade a isso não se dão conta de que, na verdade, o PT surgiu para isso e nossa força advém disso.” A chave da estratégia de diferenciação do PT está na adoção de um projeto desenvolvimentista, tendo como referência, sobretudo, o governo de Juscelino Kubitschek, em contraste com o emblema neoliberal atribuído a Fernando Henrique Cardoso.

Assim, o PT pretende fixar a idéia de que é a força política em condições de promover o crescimento econômico, identificando nele a base para a solução dos problemas do País. Atrelados a essa locomotiva, viriam os vagões mais especificamente sociais, como emprego, educação, saúde, reforma agrária e distribuição de renda.

Os setores mais arejados do PT entendem que é necessário esse tipo de ajuste no discurso – com franca ênfase na sustentabilidade econômica do projeto social – para realizar a ambição assim formulada pelo ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque: “Transformar a esperança em confiança.” Ou, dito de outra maneira por Garcia: “Transformar a simpatia e a torcida em engajamento.”

O historiador define assim as gradações da imagem do PT: “Há setores da sociedade, nas classes alta e baixa, que não nos suportam, que têm medo de nós; e há outro que gosta de nós, mas não confia em nossa capacidade de governar.” É esse segundo grupo, tomado de “sabedoria conservadora popular”, que o PT precisaria conquistar.

“Se não houver um movimento de abertura, não vamos chegar lá em 2002”, prevê Garcia, com rara franqueza. “Talvez ganhemos mais dois ou três pontos porcentuais (de votação) e talvez cheguemos em 2006, mas, aí, encontraremos um Brasil deteriorado”, completa, revelando seu pessimismo em relação aos efeitos da política econômica conduzida pelo governo.

“O problema de um partido combativo é que, quando vai para o governo, a sociedade, acostumada à sua combatividade, espera que ele faça o que defendeu e isso às vezes é complicado”, diz o secretário de Relações Internacionais do PT, reconhecendo os limites impostos pela responsabilidade de governo. “Mas, descontada a diferença entre estar na oposição e no

 

governo, teremos de fazer um governo de mudança.”

 

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