Sindicato de controladores critica salários e militares

Para diretor, problema não é carga horária, mas salário baixo, que obriga a fazer bicos, e submissão a oficiais

 

A carga horária não é exatamente o problema que aflige os controladores de vôo. Por norma, eles têm de trabalhar 140 horas por mês. Cerca de dois terços ganharam na Justiça o direito de trabalhar 130 horas. O problema é que o salário líquido de R$ 2,6 mil obriga muitos deles a fazer bicos para complementar a renda familiar, chegando cansados ao trabalho. Além disso, o modelo de hierarquia militar a que estão submetidos não se encaixa bem na sua rotina.

É o que diz Ernandes Pereira da Silva, diretor do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção ao Vôo. ‘A filosofia militar atrapalha o serviço por causa da hierarquia’, diz Ernandes. ‘No sistema militar, é o mais antigo que manda, não o que sabe mais.’ Controlador de vôo civil aposentado, Ernandes diz que é comum os oficiais, que pouco conhecem do serviço, mandarem os controladores ‘fazerem coisas absurdas’. ‘Não cumprimos porque causaria acidentes’, diz Ernandes, que conta ter sido suspenso por esse tipo de recusa. ‘Já o militar, se não cumpre, vai preso.’

Ernandes conta que, se um sargento controlador e um piloto militar de patente mais alta se envolvem num incidente, a culpa recai automaticamente sobre o sargento por causa da hierarquia. ‘Isso tem que ser tirado das mãos dos militares’, opina Ernandes, lembrando que o Brasil é um dos poucos países do mundo que mantêm um sistema integrado de defesa aérea (militar) e de controle de vôo (normalmente civil).

O diretor do sindicato, que representa apenas os 150 controladores civis, estima que eles sejam só 5% do total. Segundo ele, a Aeronáutica vem reduzindo a participação de civis, abrindo concurso apenas para militares. Mas os civis – que podem ser servidores da União concursados ou contratados pela Infraero em regime de CLT – ainda são os que controlam o tráfego nos aeroportos mais movimentados do País.Ernandes confirma que o inglês dos controladores de vôo – restrito a frases – é insuficiente para uma situação de emergência com um piloto estrangeiro.

O Sindicato Nacional dos Aeronautas também reivindica a desmilitarização do setor. Já a Aeronáutica defende o sistema integrado. O brigadeiro Álvaro Pinheiro, chefe da área técnica do Departamento de Controle do Espaço Aéreo, cita os atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA. ‘Havia três aviões perdidos’, lembra, referindo-se aos que foram seqüestrados e usados nos atentados. ‘Aqui, não tem avião perdido. Quando um avião sai da rota, soa um alarme no controle do tráfego e também na defesa aérea.’

Assim, em tese, a Força Aérea é capaz de reagir mais depressa, no caso de necessidade de interceptação de aviões. Enquanto isso, em países onde os dois sistemas não estão integrados, poderia haver áreas cobertas só por um deles e o outro não receber a informação. Além disso, argumenta o brigadeiro, sai mais barato ter um sistema único do que duplicá-lo.

Pinheiro conta que fez uma explanação ao secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, sobre o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), que ele comandava. Comentou que no Brasil os sistemas civil e militar eram integrados, ao contrário dos EUA. Rumsfeld respondeu que estavam revendo isso no seu país. 


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