Chile atrai imigrantes e se depara com preconceito

Quando digo que eu não vinha ao Chile desde 2001, muitos chilenos me perguntam o que mudou nesses 16 anos. Respondo que a mudança mais aparente é a presença maciça de imigrantes. Eles concordam. Esses imigrantes vieram de vários lugares. Mas, quando falamos de algo “aparente”, estamos falando principalmente das pessoas negras. Aqui, antes, não havia negros. “Junto com os negros veio o racismo”, me disse um dentista chileno de 31 anos. “Antes, não havia contra o que ser racista.”

Imigrante colombiano, com as cores do Brasil, no metrô de Santiago.
| Lourival Sant’Anna

Com certeza, a presença dos negros, vindos do Haiti, República Dominicana, Colômbia e Venezuela, entre outros, criou mais oportunidades para os chilenos “exercitarem” esse traço de sua cultura. Mas ele já estava lá. Assim como os argentinos, muitos chilenos — não todos, e nem sei se a maioria — cultivam uma certa identidade “inglesa”, ou em geral europeia. Isso em razão de imigração de ingleses, alemães, italianos, etc., da hierarquia de valores nascida da colonização e da comparação com o Brasil.

Um almirante argentino na virada do século 19 para o 20 cunhou a expressão “China negra”, para se referir ao Brasil. Para compensar o fato de serem menores que o Brasil, Argentina e Chile procuraram construir para si um critério de superioridade baseado na cor da pele. De novo: não são todos os argentinos e chilenos, e nem sei se são a maioria. Mas isso está presente. Como está presente o preconceito racial dentro do próprio Brasil, com seu imenso contingente de negros.

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