Choques podem marcar despedida de Pinochet

SANTIAGO – O Chile assistirá hoje a uma cerimônia que não acontece há 25 anos: a transferência de comando do Exército, cargo exercido pelo general Augusto Pinochet desde o golpe militar que ele próprio conduziu em 1973.

Os carabineiros montaram um grande esquema de segurança nas proximidades da Escola Militar, onde será a cerimônia, para impedir confrontos entre os que são contra e os que são a favor do ingresso de Pinochet no Senado, amanhã.

Ontem, numa cerimônia reservada aos militares, no edifício das Forças Armadas, Pinochet assinou a ata de transferência do comando para o general Ricardo Izurieta. Pinochet, de 82 anos, chegou às 8h10 ao edifício, com seu corpo rígido e andar pausado. Um dos momentos mais importantes foi a entrega a Izurieta da Gran Cruz de la Victoria, condecoração reservada ao posto de tenente-general do Exército, ao qual ele será promovido amanhã. Para que Izurieta fosse o sucessor de Pinochet, como quis o ex-ditador, nada menos que cinco generais tiveram de passar para a reserva.

No fim da tarde, Pinochet foi ao Palácio de La Moneda, para o último encontro com o presidente Eduardo Frei na qualidade de comandante-chefe efetivo do Exército. “Efetivo” porque o Corpo de Generais agraciou o ex-ditador na sexta-feira com o título inédito de “comandante-chefe benemérito”. Num pergaminho firmado pelos 45 generais do Exército, a instituição jurou-lhe “lealdade e apoio para sempre”. Assim, Pinochet assume hoje o cargo de senador vitalício, tendo ao mesmo tempo formalizado seu vínculo (igualmente vitalício) com o Exército.

A chegada de Pinochet a La Moneda foi marcada por um protesto de dezenas de pessoas, que gritavam: “Assassino, assassino!” A polícia reprimiu o protesto com jatos d’água.

O Conselho Nacional da Democracia Cristã, do presidente Frei, estava reunido ontem à noite para decidir se apóia ou não a “acusação constitucional” de deputados da coalizão de governo contra o ingresso de Pinochet no Senado. A acusação refere-se ao período posterior à presidência de Pinochet (1973-90):

“Com suas declarações e atuações posteriores a 11 de março de 1990, ele rompe a obrigação constitucional de não ser deliberante e incorre em matérias abertamente políticas, comprometendo a honra e a segurança nacionais.” As últimas palavras são a chave para declarar o impedimento, segundo a Constituição.

 

Apesar da exortação de Frei para que o país esqueça o passado e abandone o movimento de resistência contra o ingresso de Pinochet no Senado, o resultado da reunião de ontem à noite era imprevisível.

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