Lagos chega à eleição chilena com leve favoritismo, mas tudo pode acontecer

Tanto ele como o direitista Lavín podem eleger-se, já ou num segundo turno

 

SANTIAGO – O candidato Ricardo Lagos, da coalizão governista Concertación, desponta como favorito amanhã, no primeiro turno da eleição presidencial chilena. Mas nenhum analista independente se arrisca a prever o resultado. As opiniões de cientistas políticos ouvidos pelo Estado e os resultados dos institutos de pesquisa indicam que tudo pode acontecer.

Tanto Lagos quanto o principal candidato da oposição, Joaquín Lavín, de uma aliança de direita, podem eleger-se já no primeiro turno, obtendo metade dos votos válidos mais um; assim como pode haver segundo turno, dia 16 de janeiro, e qualquer um dos dois pode vencer.

“Eu não apostaria mais de 10 mil pesos (cerca de R$ 40) nessa eleição”, diz Emilio Meneses, do Instituto de Ciência Política da Universidade Católica, ao comentar o precário favoritismo de Lagos. “É a eleição dos indecisos”, completa Guillermo Holzmann, do Instituto de Ciência Política da Universidade do Chile. As diversas pesquisas variam quanto à porcentagem de indecisos, dos que votam em branco ou nulo e dos que não vão votar, mas, em geral, indicam que essa fatia daria, com sobra, vitória a um dos candidatos. Além disso, diz Holzmann, “para que não haja segundo turno, os (quatro) candidatos sem chance de vencer não podem somar mais de 10% dos votos, e eles representam, hoje, mais ou menos 10%”.

As duas pesquisas mais recentes são a do Instituto Mori e a da Fundação Futuro, ambas divulgadas na quinta-feira. O Mori confere 48,6% a Lagos, 42,1% a Lavín, 5,5% à comunista Gladys Marín, 1,9% a Tomás Hirsch, do Partido Humanista, 1,2% ao pinochetista Arturo Bolívar Frei e 0,7% a Sara Larraín, do Movimento Alternativa de Mudança. Comparando com pesquisa realizada em meados de novembro, Lagos subiu 6,6 pontos porcentuais e Lavín, 6,1, enquanto os candidatos menores perderam votos.

Já a Fundação Futuro põe Lagos e Lavín empatados em 37%; 4% para Marín; Frei e Hirsch com 1% cada; Larraín com 0% (as frações foram arredondadas em números inteiros); e nulos e brancos, 3%. Considerando apenas os votos válidos, Lagos e Lavín empatam em 45% e Marín sobe para 5%.

O problema é que não existe instituto de pesquisas totalmente imparcial no Chile. A filial chilena do Mori é dirigida por Marta Lagos, que, embora não seja parente do candidato da Concertación, é ligada à Democracia Cristã, que o apóia. Já a Fundação Futuro é dirigida por Sebastián Piñera, que integra o comando da campanha de Lavín. O Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc), outro que prevê a vitória de Lagos, é dirigido por Carlos Hanneus, marido de Marta Lagos e também democrata-cristão. A pesquisa do Cerc, divulgada na terça-feira, atribui 45,8% a Lagos, 39,6% a Lavín, 6,7% a Marín, 2,4% a Hirsch, 0,9% a Frei e 0,3% a Larraín, com 2,1% de indecisos e 1,8% de brancos e nulos. Dos votos válidos, Lagos teria 48% e Lavín, 41%. Até mesmo o prestigiado Centro de Estudos Públicos (CEP), que edita importante revista de ensaios sociológicos e econômicos e também realizou pesquisas de intenção de voto, é identificado com a centro-direita. Seu último levantamento, concluído no final de outubro, sobre o que aconteceria se os dois principais candidatos passassem para o segundo turno, previa vitória de Lagos, com 43,5%, sobre Lavín, com 38,8%, mas advertia que a diferença não era “significativa do ponto de vista estatístico”. O CEP apontou, ainda, crescimento de Lavín, que, em maio, obtivera 33,4% das intenções de voto no segundo turno, enquanto Lagos caíra do patamar de 45,2%.

 

“Ninguém sabe qual será o resultado se houver segundo turno”, diz Emilio Meneses. “Se Lavín for o mais votado no primeiro turno, toda a esquerda, incluindo os eleitores de Marín, Hirsch e Larraín, que somam cerca de 8% ou 9%, votará em Lagos no segundo, mas há, também, um setor do eleitorado, politicamente inculto, que quer votar naquele que vai ganhar e pode migrar de Lagos para Lavín”, adverte o cientista político. É o que ele chama de “efeito bote”: quanto mais pessoas passam para um lado, o bote pende e arrasta mais gente. Até virar.

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