Brasil e Colômbia ampliam acordos

Cooperação entre os dois países vai da área militar à venda de maquinários e construção de rodovias

 

BOGOTÁ

O hino da Colômbia foi cantado com sotaque brasileiro na fria manhã de ontem, na Escola de Cadetes de Bogotá. Num gesto que simboliza a crescente cooperação militar entre Brasil e Colômbia, o subtenente brasileiro Juvenal Bandeira foi condecorado com a Medalha da Escola Militar por Serviços Distinguidos. Com a mobilização geral das forças de segurança para a eleição presidencial de domingo, e o Exército patrulhando as ruas e estradas, a escola é a única que mantém sua rotina.

Há três anos, a Colômbia ficou em último lugar no campeonato mundial de pentatlo militar, que reúne corrida “cross country”, tiro, lançamento de granada, natação de combate e pista de obstáculos militares. Mais do que uma modalidade esportiva, o pentatlo é sinal de excelência em práticas militares – e influi no moral da corporação. A Colômbia pediu ajuda ao Brasil. O Exército brasileiro lhe mandou o que tinha de melhor.

Bandeira, 45 anos, foi cinco vezes campeão mundial no pentatlo por equipe e quatro vezes individual, e detém o recorde sul-americano em granada, contagem geral individual e por equipe. Há dois anos, ele e o capitão Jetson Turquelo, também do Exército brasileiro, treinam militares colombianos. Os quatro cadetes colombianos condecorados ontem com a Medalha de Excelência Física são alunos de Turquelo e Bandeira. O Exército colombiano está agradecido. Na terça-feira, Turquelo receberá a sua condecoração.

O tenente-coronel Ronaldo Brasil de Souza chefia o Grupo Interamericano de Desminado Humanitário, encarregado de remover minas na Colômbia, e do qual participam outros dois militares brasileiros. Outra missão que os colombianos apreciam. 

Depois de seis décadas de conflito armado, a Colômbia é um dos países mais minados do mundo. De cada três pessoas que são mutiladas por dia, uma é criança. Dois militares da equipe foram acidentados com minas nos últimos dias. Um perdeu uma perna; o outro, um olho. 

A cooperação militar rende dividendos. Em novembro, a Embraer fechou a venda de 25 aviões Supertucanos, para interceptação de aviões em baixa altitude (caso das avionetas usadas pelo narcotráfico) e ataque ao sólo. O pacote, que inclui instrução, manutenção e um simulador, saiu por US$ 235 milhões. 

Enquanto o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, faz marola e acaba comprando da Rússia ou da Espanha, é o da Colômbia, Álvaro Uribe, quem acaba assinando cheques para o Brasil. Aqui, as aparências enganam. Apesar da suposta diferença ideológica entre Uribe, considerado de direita, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a química entre ambos tem sido notável.

Muito próximo dos Estados Unidos e colecionando situações desconfortáveis com Chávez, e agora com seu pupilo na Bolívia, Evo Morales, Uribe tem-se fiado em Lula para aliviar tensões. Em abril, o presidente colombiano “baixou” em Brasília numa viagem não agendada. Foi pedir a ajuda a Lula para lidar com Chávez, que se retirara do Pacto Andino, e com Morales, depois que a Colômbia substituiu a compra de soja boliviana pela americana, como parte de uma negociação bilateral de Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos.

“O presidente Uribe procura, na figura do presidente Lula, um apoio nas suas relações com países que se estão direcionando mais para a esquerda na América do Sul”, observa o embaixador do Brasil em Bogotá, Júlio César Gomes dos Santos. 

Durante um almoço com Lula em Bogotá, em dezembro do ano passado, Uribe, discursando de improviso, demonstrou sua admiração pessoal pelo brasileiro. Depois de realçar a história de Lula e do PT, e de reconhecer seu papel de líder da luta contra a pobreza, Uribe declarou: “Nossas relações eram mais de cortesia, eram diplomáticas no sentido burguês do termo. Não estavam interessadas em avanços práticos. O senhor as dinamizou muitíssimo.”

O Brasil exporta US$ 1,28 bilhão ao ano para a Colômbia, em maquinário, ônibus, tratores, autopeças e produtos químicos, e importa apenas US$ 200 milhões. Grandes empresas brasileiras têm presença crescente no país. 

A Petrobrás, que já explora petróleo na Colômbia, avança agora para a distribuição, assumindo a rede de postos Shell do país a partir do mês que vem. A Gerdau está produzindo aço na Colômbia, mirando sobretudo o mercado americano. A Camargo Corrêa está construindo a segunda hidrelétrica no país, num contrato de US$ 239 milhões. Durante a visita de Lula, ficou acertado que a licitação da construção da estrada Pasto-Mocoa, de 230 quilômetros, será disputada entre empresas brasileiras. 

 

A lista de “avanços práticos” é extensa.

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