Brasileiro é responsável pelo transporte e pelo churrasco

BOGOTÁ – Toda vez que o turbo-hélice Conquest parte para a zona guerrilheira, levando o presidente Andrés Pastrana ou seu representante nas negociações, Victor G. Ricardo, são acomodados, em seu diminuto bagageiro, vários quilos de carne, frango e pacotes de bacon.

 

O churrasco tornou-se ritual sagrado nessas reuniões, desde o primeiro encontro secreto entre Pastrana e o chefe guerrilheiro, Manuel Marulanda (Tiro Certo), em agosto, no meio da selva. O responsável pelo churrasco é também o comandante do avião: Luiz Stein. Um gaúcho, claro.

Como um brasileiro tornou-se o homem de confiança do governo colombiano para transportar seus principais membros, não só para as difíceis missões na zona guerrilheira, mas em grande parte das viagens oficiais?

Stein, 44 anos, na Colômbia desde 1979, é dono de uma companhia de táxi aéreo, a Rio Sur (faturamento de US$ 2 milhões em 1998), entre outras empresas. Nos preparativos para a decolagem para a primeira reunião secreta, em agosto, logo depois da posse de Pastrana, o avião presidencial acidentou-se na pista.

Pastrana e Victor G. saíram do avião e o negociador-chefe avistou o brasileiro na pista de decolagem, em frente ao hangar da Rio Sur. Os dois já se conheciam desde 1984, quando Stein levou ao Brasil uma delegação de empresários colombianos para promover o comércio exterior entre os dois países. O pai de Victor G., de mesmo nome, foi embaixador em Brasília nos anos 70. E Victor G. filho é membro da Câmara de Comércio Colombo-Brasileira, presidida por Stein.

O brasileiro, que assistia à frustrada decolagem “praticamente de bermudas”, foi convidado a levar o presidente e seu assessor especial a San Vicente del Caguán, reduto guerrilheiro no centro-sul do país, a 1h20 de vôo de Bogotá.

A comitiva foi recebida com churrasco pelos guerrilheiros. A carne, no entanto, não passou pelo rigoroso crivo do gaúcho nascido em Marcelino Ramos, perto de Erechim, que saiu de casa, aos 12 anos, “só com a roupa do corpo”. Stein assumiu a churrasqueira.

 

Todos adoraram o “asado” e o elegeram o churrasqueiro oficial do processo de paz. Foi o primeiro e único acordo, até agora.

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