Colombianos elegem hoje novo presidente

BOGOTÁ — Os colombianos defrontam-se hoje com uma escolha extraordinariamente difícil.

Os três candidatos com chances de vencer a eleição presidencial fazem promessas idênticas para a solução dos principais problemas do país: negociar a paz com a guerrilha, que domina 40% do território, combater o narcotráfico, que se infiltrou nas instituições e nos setores produtivos, e debelar o desemprego, que atinge 14,5%.

O conservador Andrés Pastrana, que está na frente nas pesquisas, perdeu a eleição para o liberal Ernesto Samper, em 1994, por margem ínfima de votos.

Para uma parte dos colombianos que consideram que o governo Samper foi um desastre — e eles não são poucos —, é chegada a hora de dar um voto de confiança em Pastrana.

Entretanto, o candidato sofre também de importante rejeição. Foi Pastrana quem obteve as fitas que indicavam a doação de US$ 6 milhões do cartel de Cali para a campanha de Samper. O escândalo comprometeu a imagem da Colômbia no exterior e causou um estremecimento nas relações com os Estados Unidos, seu parceiro mais importante. Muitos colombianos se voltaram contra Pastrana. O desgaste levou-o ao exílio voluntário em Miami, de onde só voltou no ano passado.

Pastrana, cuja candidatura se apóia numa frente ampla, tem de seis a nove pontos de vantagem (dependendo da pesquisa) sobre o segundo colocado, Horacio Serpa, do Partido Liberal. Em terceiro, com três a oito pontos abaixo de Serpa, mas em plena ascensão, está a independente Noemí Sanín. Uma virada é possível e, segundo uma das pesquisas, se Noemí passar para o segundo turno, no dia 21, bate qualquer um dos dois.  

Serpa usufrui de reconhecidos dotes oratórios e de uma imagem de “homem do povo”. “É um populista”, resume a cientista política Consuelo Ahumada, da Universidade Javeriana. Define-se como de centro-esquerda e acusa Pastrana de ser “neoliberal”, o que o candidato conservador nega. A lealdade de Serpa ao presidente Samper, do qual foi ministro do Interior e grande defensor, valeu-lhe a admiração de muitos e a rejeição de outros.

Violência  — Noemí, de sua parte, procura firmar-se como a alternativa “às máquinas partidárias” e aos “políticos tradicionais”. Tanto o Partido Liberal quanto o Conservador são centenários. Chegaram a governar juntos, numa “frente nacional” que durou de 1958 a 1984. Daí advém, segundo Consuelo Ahumada e outros analistas, um sentimento de exclusão dos outros setores, muitos dos quais têm recorrido à violência política.

“A violência na Colômbia corta-se no ar com faca”, diz um diplomata creditado em Bogotá. A guerra civil e o crime organizado matam 40 mil colombianos por ano (ler na página A26). Quatro candidatos à residência na eleição de 1994 foram assassinados.  

Em 1995, o líder conservador Alvaro Gómez, candidato à presidência em 1986 e em 1990, declarou numa entrevista que o “sistema colombiano” estava podre.

Foi morto uma semana depois. Foi o assassinato do candidato liberal Luis Carlos Galán que abriu caminho para a candidatura do ex-presidente César Gaviria, em 1990.

Entretanto, vários analistas e diplomatas concordam com Pastrana quando ele diz que a Colômbia não vivia antes uma crise de credibilidade tão profunda quanto a que se abateu sobre o governo Samper. A imagem do país no exterior tornou-se uma obsessão.

Sistema eleitoral  — A Colômbia tem um sistema eleitoral que já provou ser totalmente confiável, um modelo na América Latina. Foi o que afirmou ontem o costa-riquenho Luis Alberto Cordero, chefe da delegação de 23 observadores internacionais que vão monitorar o primeiro turno da eleição presidencial.

“O problema é que, como acontece em muitos lugares, na medida em que se renova a confiança no sistema eleitoral, diminui a confiança no sistema político.”  

Cordero, secretário-executivo da União Interamericana de Organismos Eleitorais, explicou que a violência e a elevada abstenção — 66% no primeiro turno de 1994 — são problemas do sistema político. Não anulam a transparência do sistema eleitoral.  

A União Interamericana, que congrega tribunais eleitorais de todo o hemisfério, acompanhou 102 eleições nos últimos 15 anos. Sua equipe, no entanto, só atuará em Bogotá e arredores. Não irá para regiões, em todo o país, onde a guerrilha e os paramilitares disseminam o terror.

Nas eleições departamentais e municipais de outubro, dois observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) foram mantidos reféns durante oito dias pelo Exército de Libertação Nacional, em Medellín. A OEA não vai monitorar essa eleição presidencial, embora seu secretário-geral seja César Gaviria.  

 

Um funcionário do escritório da OEA em Bogotá, que pediu para não ser identificado, disse ao Estado que cabe à chancelaria do país que realiza as eleições pedir a participação da OEA. E isso não ocorreu.

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