Com gols, Pastrana busca imagem de pacificador

BOGOTÁ — O candidato favorito à presidência da Colômbia, o conservador Andrés Pastrana, marcou dois gols ontem num jogo entre a sua Grande Aliança pela Mudança e um grupo de humoristas do programa matinal Sábados Felizes, do Canal 9.

A partida, realizada no Estádio do Olaya, foi anunciada como uma jornada de “la paz”, no esforço de roubar do candidato do governo, o liberal Horacio Serpa, segundo lugar nas pesquisas, o principal mote de sua campanha, a pacificação do país, que tem 40% do território dominado pela guerrilha.  

Fontes militares denunciaram que os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) planejam impedir a votação em 25 povoados, mas as Farc desmentiram. Num comunicado, o grupo prometeu não sabotar o pleito, mas conclamou os eleitores a boicotá-lo. Rebeldes de outro grupo esquerdista, o Exército de Libertação Nacional (ELN), atacaram com dinamite instalações da multinacional americana Técnica Baltime em Santa Marta, sem deixar vítimas. Os três principais candidatos a presidente prometem que, se eleitos, negociarão diretamente com a guerrilha.  A escalação do time da Aliança foi uma exibição de dissidentes liberais importantes que aderiram a Pastrana. A defesa contou com dois ex-ministros liberais: Nestor Martínez, da Justiça, e Augusto Galán, da Saúde, cujo irmão, Luis Carlos, foi assassinado quando era o candidato lideral à presidência na eleição de 1990.

Outra estrela da partida foi o ex-procurador-geral da república Alfonso Valdivieso, que conduziu o processo — arquivado pelo Congresso — contra o presidente Ernesto Samper, acusado de ter recebido US$ 6 milhões do cartel de Cali para financiar sua campanha.

Valdivieso deixou a procuradoria no ano passado, para candidatar-se à presidência como independente. Em março, no entanto, aderiu à Aliança. No vestiário, antes do jogo, Valdivieso disse ao Estado: “Sempre fui liberal independente e continuarei sendo.” Afirmou esperar que Pastrana saia eleito já no primeiro turno, com 50% dos votos. Pelo menos no que se refere à partida, sua previsão não foi acertada: “Dois a zero para a Aliança, com passes importantes meus.”

A Aliança perdeu por três a dois, Pastrana chegou atrasado no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo. Cercado pelos jornalistas, declarou apenas que a vitória liberal no domingo significaria “a continuidade da corrupção”. Seu primeiro gol foi escancaradamente facilitado pelo Sábados Felizes, cujo diretor, Eduardo Pizano, foi eleito senador pelo Partido Conservador em março. Já o segundo gol foi genuíno. “Esse, sim, um golaço”, exultaram os correligionários.

Horacio Serpa, de 53 anos, cumpriu uma agenda mais convencional ontem. O candidato liberal e ex-ministro do Interior visitou em Bogotá o Serviço Nacional de Aprendizagem (Sena), espécie de Senai colombiano que oferece cursos profissionalizantes. Seguindo sua linha autodefinida como de centro esquerda, Serpa prometeu aos alunos que, se eleito, não privatizará a instituição.

Ao lado da questão da paz, Serpa, ex-integrante do grupo esquerdista M-19, tem insistido na tecla antiprivatista, contrapondo-se ao perfil mais pró-mercado de Pastrana. Em sua propaganda na tevê, Serpa exalta a assistência social prestada pelas estatais  e promete mais investimentos “no social”.

A terceira colocada nas pesquisas, a independente Noemí Sanín, ex-chanceler liberal, preferiu ontem percorrer cidades do Departamento de Boyacá. O ponto fraco de Noemí é justamente o interior, tanto a equipe dela quanto a de Serpa, debruçadas sobre as pesquisas feitas cidade por cidade, avaliavam ontem as áreas prioritárias para os candidatos atacarem.

As pesquisas são uma guerra à parte nessa reta final da eleição colombiana. A revista Semana publicou pesquisa prevendo 40,9% dos votos para Pastrana, 35,5% para Serpa e 10,4% para Noemí. Já o jornal El Tiempo publicou pesquisa realizada pela empresa de Napoleón Franco, que coloca Pastrana muito à frente de Serpa, por 41,7% a 24%, enquanto Noemí se estaria aproximando do segundo colocado e reunindo chances para chegar ao segundo turno, com 17,5%.

 

Aparentemente, a diferença se deve ao fato de Napoléon Franco ter concentrado sua pesquisa nas cidades maiores, onde Noemí tem mais votos.  Os liberais entraram com um processo contra o jornal El Tiempo,  acusando-o de má-fé na divulgação dessa pesquisa. No domingo, as urnas dirão quem tinha razão.

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