Decai bipartidarismo na Colômbia

BOGOTÁ — Os resultados do primeiro turno da eleição presidencial colombiana, realizado no domingo, sugerem o ocaso do bipartidarismo e sobretudo do poder do Partido Liberal.

Essa é a conclusão do decano da Faculdade de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Javeriana, padre Javier Sanín. Um dos mais respeitados analistas políticos da Colômbia, o padre, que é primo-irmão da candidata independente derrotada Noemí Sanín, diz ser impossível prever para onde irão seus votos no segundo turno, dia 21.  

Estado — Que conclusões se pode tirar dos resultados do primeiro turno?

Javier Sanín — Os dois principais candidatos empataram. Isso torna muito complicado saber o que vai acontecer no segundo turno. Além disso, quase um terço dos votos não pertence à máquina dos partidos. A luta vai ser dura para apoderar-se dos votos de Noemí.  

Estado — O fato de o voto para Noemí ter sido pela mudança não ajudaria (o candidato oposicionista Andrés) Pastrana agora?

Sanín — Pode favorecer, evidentemente, como voto contra o continuísmo do (candidato liberal governista Horacio) Serpa. Mas muitos eleitores também vêm Pastrana como parte do continuísmo das máquinas, dos políticos tradicionais.

Estado — Mas as máquinas ainda provaram ser muito fortes…

Sanín — O bipartidarismo continua vivo, mas cada vez menos forte. Sobretudo o Partido Liberal mostra muita debilidade. Antes, ele ganhava com muita vantagem. Essa maioria foi caindo e foram aumentando as possibilidades de Pastrana, que já teve três empates: nos dois turnos de 1994 e no primeiro de 1998. Ou seja, Pastrana tem conseguido nivelar-se com a máquina liberal, que só ganhou (em 1994) recorrendo ao dinheiro do narcotráfico e à compra de votos.

Estado — O problema dos liberais é ideológico ou político?

Sanín — É um problema de desgaste político, porque durante a última hegemonia liberal surgiu o problema do narcotráfico e aumentaram a violência, violações dos direitos humanos e corrupção política.  

Estado — Ideologicamente, pode-se distinguir os perfis dos dois?

Sanín — Não há divergências importantes. A linha econômica é a mesma, de tentar inserir o país na economia internacional. Todos têm de declarar-se pela paz, pelos direitos humanos e pelo meio ambiente.

Estado — O sr. acredita que a guerrilha esteja disposta a negociar?

 

Sanín — Não. A guerrilha não estará disposta a negociar enquanto se vir empatada com o governo; só quando for vencedora ou perdedora.  

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