‘Não houve acordo debaixo da mesa’

Chefe de missão da OEA que acompanhou negociações com os paramilitares nega favorecimento por parte do governo Uribe

 

BOGOTÁ

Foram 30 mil paramilitares e 17 mil armas entregues em pouco mais de dois anos. Mas o processo de desmobilização e reinserção na sociedade dos ex-combatentes está apenas começando, e os desafios à frente são imensos. A avaliação é do sociólogo argentino Sergio Caramagna, chefe da Missão de Apoio ao Processo de Paz na Colômbia da Organização dos Estados Americanos (Mapp/OEA).

“A entrega de armas é um momento, um ato, em que todos cantam o Hino Nacional, todo mundo aplaude e faz discursos, mas depois é que vem a história”, diz Caramagna, que também monitorou o processo de desarmamento da guerrilha na Nicarágua, nos anos 90. Sua equipe tem 87 profissionais, entre eles o diplomata brasileiro José Roberto de Andrade Filho, encarregado de fazer o enlace da missão com as embaixadas em Bogotá.

“Na Colômbia, estamos no momento da bagunça”, diz Caramagna. “Os paramilitares foram desmobilizados, o Exército e a Polícia ainda estão tentando ocupar o espaço deixado por eles, e a guerrilha também. Precisamos de mais tempo para saber no que vai dar. Mas o fato de esse número de pessoas ter entregue suas armas, e de a violência ter diminuído no país, já é muito importante.”

Os grupos paramilitares foram criados a partir dos anos 80, para fazer frente aos bloqueios, extorsões, seqüestros e matanças cometidas pela guerrilha. Acabaram, como a guerrilha, cometendo as mesmas atrocidades e vinculando-se ao narcotráfico. Entraram no programa por decisão de seus comandantes. Faltam cerca de mil paramilitares. Outras 10 mil pessoas, entre militares, guerrilheiros e integrantes de gangues também se desmobilizaram, por iniciativa própria.

Todos recebem, durante 18 meses, uma ajuda de custo do governo de 358 mil pesos (R$ 358). 

Os críticos dizem que o programa foi desenhado para os paramilitares, com os quais o presidente Álvaro Uribe, reeleito no domingo, é acusado de ter ligações. “Não vimos nenhum acordo por debaixo da mesa”, desmente Caramagna.

 

Representantes do governo já realizaram três reuniões com os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), em Havana, com intermediação de Cuba, Espanha, Suíça e Noruega. Um acordo de desmobilização pode ser alcançado nesse segundo mandato de Uribe. Já com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, até agora só se discutiu troca de reféns por presos.

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