Serpa defende acordo militar com Brasil

Admirador de Lula, candidato apóia colaboração para vigiar a fronteira comum

 

BOGOTÁ — O candidato à presidência da Colômbia pelo Partido Liberal, Horacio Serpa, defendeu ontem um acordo de cooperação militar com o Brasil para vigiar a extensa e porosa fronteira entre os dois países. Serpa ressalvou, no entanto, que não aceita tropas estrangeiras na Colômbia. Declarou-se admirador de Luís Inácio Lula da Silva e descartou a idéia de

que a eleição do candidato petista pudesse aumentar a percepção de instabilidade no continente e encorajar indiretamente os Estados Unidos a promover uma ação militar na Colômbia.

Durante entrevista à imprensa estrangeira em seu comitê de campanha, o Estado perguntou a Serpa se deveria haver uma estratégia conjunta da Colômbia e do Brasil, que mais uma vez está concentrando tropas na fronteira para prevenir a invasão de narcotraficantes e de guerrilheiros colombianos.

O candidato, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para a eleição de domingo, respondeu que compreende a “inquietude” brasileira e propôs acordos bilaterais de cooperação militar com o Brasil e outros vizinhos.

Um jornalista mexicano perguntou se Serpa não temia que, com a eventual eleição de Lula, somada ao perfil turbulento do governo de Hugo Chávez na Venezuela, os Estados Unidos tendessem a converter o Plano Colômbia em intervenção militar, como parte de uma estratégia para conter a instabilidade na região. “Até onde eu sei, o Plano Colômbia é contra os cultivos ilícitos”, respondeu Serpa. “Não queremos que a Colômbia seja um país ‘coquero’ (de coca).”

O candidato, que tem 23% das intenções de voto e deverá converter-se num dos líderes da oposição, com a vitória provável de Álvaro Uribe (49%), defendeu a manutenção do “convênio” com os EUA, mas propôs a introdução, no plano, de ações para promover “o desenvolvimento institucional, o crescimento econômico e a eqüidade”. O plano de US$ 1,3 bilhão já inclui ações desse tipo.

Serpa ponderou que Chávez, cuja simpatia pela guerrilha colombiana tem exasperado o presidente Andrés Pastrana e a opinião pública do país, é o presidente da Venezuela e a Colômbia precisa manter boas relações com ela, assim como “relações fluidas” com os EUA. “Meu governo vai ter boas relações com o governo brasileiro. Se for Lula, magnífico, porque o admiro muito.”

“Uribe fala de trazer tropas estrangeiras; em meu governo, não haverá tropas estrangeiras na Colômbia”, declarou Serpa, diferenciando-se de seu rival, partidário de uma ofensiva militar implacável contra a guerrilha. “Defendo a cooperação com os EUA e outros países, não a intervenção. Minha proposta de segurança é democrática, com respeito aos direitos humanos, não com política de terra arrasada nem de acordo com os paramilitares nem com um estatuto antiterrorista.”

Os adversários de Uribe o acusam de ligação com os grupos paramilitares, que combatem a guerrilha. Uribe, dissidente do Partido Liberal, ex-governador da Antioquia, de onde apoiou Serpa na eleição presidencial de 1998, defende mudanças na legislação para permitir às Forças Armadas agir mais livremente contra a guerrilha, sem as restrições legais que se aplicam ao combate ao crime comum. Daí a referência a um estatuto antiterrorista.

Mesmo com o recrudescimento dos confrontos e das ações terroristas, Serpa

 

continua colocando ênfase, ao lado do aparelhamento e treinamento das Forças Armadas, em ações de cunho social e institucional como forma de superar o conflito armado. Depois de quase quatro anos de negociações de paz infrutíferas, a maioria dos colombianos parece não ter mais paciência para isso.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*