Por que o Equador reluta em dar asilo a Snowden

Ricardo Patiño, o chanceler do Equador, disse que o país levará meses para decidir sobre o pedido de asilo do ex-agente americano Edward Snowden, foragido no aeroporto Sheremetyevo, em Moscou. O Equador deve estar fazendo as contas. O programa dos Estados Unidos de isenção de impostos de importação sobre produtos equatorianos vence no mês que vem. Os EUA são o destino de mais da metade das exportações equatorianas, e suas compras representam 13% do PIB do país.

A Lei de Promoção do Comércio Andino e Erradicação das Drogas, aprovada em 1991 no governo de George Bush pai, prevê o benefício alfandegário para os países que adotem programas de substituição de cultivos ilícitos, incluindo: Colômbia, Peru e Equador. A Bolívia foi excluída em 2008, sob acusação de não combater o narcotráfico sob o governo do ex-líder cocalero Evo Morales.

O senador Robert Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, já disse que o convênio com o Equador, que vence no mês que vem, não será renovado, no caso da concessão de asilo político a Snowden: “Nosso governo não recompensará países por mau comportamento”.

Os Estados Unidos importaram US$ 9,5 bilhões do Equador no ano passado. A maior parte desse montante – US$ 5,4 bilhões – refere-se a petróleo. Em segundo lugar vêm camarões, seguidos de bananas, cacau e flores. A importação de flores somou apenas US$ 166 milhões, mas, assim como na Colômbia, também no Equador a substituição da coca pelas flores tem tido um valor simbólico e gerado empregos na zona rural que vão muito além dessas divisas. O impacto social da suspensão do programa seria grande.

Os EUA tinham, em 2011, um estoque de investimentos diretos de US$ 1,2 bilhão no Equador, ou quase 2% do PIB naquele ano. Os americanos são também tradicionais doadores de assistência ao Equador. Nos últimos cinco anos, essa ajuda somou US$ 144 milhões. Certamente ela seria revista, no caso da concessão de asilo.

O presidente Rafael Correa qualificou as ameaças de “chantagem”. Mas seu chanceler pediu aos EUA que apresentem seus argumentos contra Snowden, e alegou que o refúgio para Julian Assange, diretor do Wikileaks, na embaixada equatoriana em Londres demorou dois meses para ser concedido. “Não esperem que, dessa vez, decidamos mais prontamente.”

Desde que assumiu, em janeiro de 2007, o presidente Rafael Correa tem desafiado os Estados Unidos, com uma retórica antiameriana e o alinhamento ao ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. A acolhida a Assange foi um capítulo nessas desfeitas. Mas assim como no caso de Chávez, os Estados Unidos nunca levaram muito a sério essas provocações, desde que circunscritas à retórica, e não deixaram que elas afetassem as relações comerciais.

 

Snowden é uma outra história. Diferentemente do australiano Assange, ele é americano e trabalhou no serviço de inteligência dos EUA. Isso o coloca na condição de “traidor”, a mesma do soldado Bradley Manning, que entregou ao Wikileaks documentos confidenciais, incluindo vídeos com aparentes violações cometidas por militares americanos no Iraque e no Afeganistão. Preso em julho de 2010, ainda sem julgamento, ele tem tido um tratamento severo, que inclui passagens pela solitária dormindo sem roupa no chão gelado, e pode pegar 20 anos de prisão.

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