Ausente, Oviedo é estrela do comício colorado

ASSUNÇÃO – O Partido Colorado encerrou, na noite de terça-feira, sua campanha para as eleições gerais do dia 10 com uma festa impressionante, cuja grande estrela não estava presente:

o general Lino César Oviedo, preso há cinco meses na 1.ª Divisão da Infantaria. Cerca de 100 mil pessoas ocuparam o largo na frente das sedes do Senado e da Câmara dos Deputados e as ruas e avenidas vizinhas, no centro de Assunção.

O presidente Juan Carlos Wasmosy, que comandara na noite de segunda-feira um encontro mais restrito do partido, no ginásio de esportes, também não estava presente. A festa foi dominada pelos partidários de Oviedo, ex-comandante do Exército que venceu as prévias do partido para a candidatura à presidência no ano passado, mas foi condenado a 10 anos de prisão – por um tribunal militar extraordinário criado por Wasmosy -, por tentativa de golpe.

A sentença foi confirmada no mês passado pela Corte Suprema e o general tornou-se inelegível. O vice de sua chapa, Raúl Cubas, virou candidato a presidente. Luis María Argaña, cabeça da chapa segunda colocada nas prévias, é agora candidato a vice. Wasmosy, Cubas e Argaña lideram três facções mortalmente rivais entre si no interior do Partido Colorado.

Na terça à noite, os oradores alternaram-se no palanque para condenar ora Wasmosy, ora a Corte Suprema, ora a oposição liberal. O discurso mais violento da noite foi o do candidato a senador Enrique González. Falando em guarani – a língua do campesinato paraguaio -, o oviedista garantiu que, com a vitória colorada, Oviedo ganhará a liberdade, e “é Wasmosy quem vai para Tacumbu”, em alusão ao local da prisão do ex-general. O vice-presidente do Paraguai, Angel Roberto Seifart, também foi áspero com Wasmosy, ao qual não tem dirigido a palavra ultimamente. Defendeu um “julgamento político” do presidente.

Já Raúl Cubas não reiterou a promessa que tem feito de indultar Oviedo. A Constituição paraguaia determina que o condenado cumpra antes metade da sentença – ou 5 anos, no caso do ex-general. Preferiu ater-se a promessas de bem-estar social e desenvolvimento econômico. Também não agrediu os liberais, dos quais pode necessitar no Congresso, uma vez eleito. Argaña, que, como presidente do Partido Colorado, ocupa o sugestivo cargo de “chefe da Junta de Governo”, foi quem dirigiu suas baterias contra a Aliança Democrática. Segundo pesquisa da Universidade Católica de Assunção, a Aliança venceria a eleição presidencial com 44% dos votos, enquanto os colorados teriam 41%. Argaña culpou os liberais pela Guerra da Tríplice Aliança – identificada como fator de ruína do Paraguai. E tachou-os de “exploradores dos humildes camponeses e operários”.

Após cinco décadas no poder, a oligarquia rural colorada consegue manter, perante parte considerável da população, a imagem de defensora dos camponeses, em oposição aos liberais, identificados com a burguesia. “A Aliança representa o sangue azul, os príncipes, os ricos”, dizia ao Estado, no meio da multidão, Conrado Varela, de 33 anos. “O Partido Colorado representa a massa popular, a gente humilde.” No entanto, isso não é o que pensam a Central Unitária dos Trabalhadores e a Confederação Nacional dos Camponceses que deram ontem seu apoio à Aliança Democrática.

Apesar de seu discurso, Varela é um funcionário público urbano: trabalha no Porto de Assunção. O mesmo ocorre com Leopoldo Melo, de 70 anos, envolto na bandeira colorada. Aposentado pela Antelco, a estatal telefônica, diz que apóia o partido porque ele é “agrarista”, além de “tradicional, majoritário e republicano”. Tradicionalmente, o governo exige filiação colorada dos funcionários públicos. Mesmo entre as facções coloradas ocorrem perseguições. Em abril de 1996, depois da suposta tentativa de golpe, os oviedistas foram varridos do funcionalismo – além dos postos de oficiais do Exército.

O feito de Oviedo foi reavivar a identificação dos colorados com a “gente humilde”. Cultiva a imagem de herói porque teria, com uma granada na mão, obrigado o ditador Alfredo Stroessner a deixar o palácio. Aparece em comercial de televisão pedindo, em guarani, que os paraguaios votem em Cubas. Sua voz – certamente gravada na prisão – é ouvida em “off”, enquanto se vêem imagens de sua campanha para as prévias do ano passado.

“Não se esqueçam de Oviedo”, pediu, em seu discurso, a mulher do ex-general, Raquel Marín. “E não esqueçamos aquele homem ruim, que quis destruir o Partido Colorado”, disse, referindo-se a Wasmosy. O slogan mais ouvido era “Liberdade para Lino O.”. As pesquisas davam vitória para os colorados, quando Oviedo encabeçava a chapa. “Se Oviedo fosse o candidato nem precisaria de campanha”, diz Juan Bogado, de 41 anos, funcionário do Laboratório Nacional. “Cubas vai libertar Oviedo e ele vai trazer segurança e bem-estar”, afirma Bogado.

“Oviedo é o príncipe dos camponeses, não só paraguaios, mas também brasileiros”, diz Carlos Alberto Vera, de 28 anos, que trabalha numa loja de produtos agrícolas em Catueté, perto da fronteira com o Mato Grosso do Sul.

 

“Ele vai apoiar o cultivo da soja, do trigo e do algodão, no qual milhares de brasileiros estão envolvidos”, promete o vendedor paraguaio, enfatizando:

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