Cartes atraiu eleitor paraguaio por não ter passado político

Embora seja do Partido Colorado, Cartes foi eleito porque disputava cargo público pela primeira vez, como Lugo, em 2008

 O fato de Horacio Cartes ter saído candidato pelo Partido Colorado pode levar a conclusões equivocadas sobre o que a sua eleição significa. Sem dúvida, com ele o partido que governou durante sete décadas volta ao poder, depois do interregno de cinco anos que representou a eleição de Fernando Lugo e sua substituição pelo seu vice, Federico Franco, do Partido Liberal. Mas não foi essa a motivação dos paraguaios.

 

O que atraiu os eleitores em Cartes foi exatamente aquilo que os levou a votar em Lugo, em 2008: o fato de ele não ser político. Tanto um quanto outro disputavam um cargo público pela primeira vez quando se elegeram presidentes. Do ponto de vista do perfil pessoal ideológico, ninguém poderia ser mais distante de Lugo do que Cartes. 

O ex-bispo tem forte ligação com os chamados movimentos populares, defende a reforma agrária e os direitos das minorias. Cartes é um dos homens mais ricos do Paraguai, apresenta-se como representante do chamado setor produtivo e, ao comentar o casamento de homossexuais, aprovado na Argentina e no Uruguai, disse que daria um tiro nos próprios testículos (ele usou uma expressão menos elegante) se seu filho de 21 anos enveredasse por esse caminho.

Nos cinco anos que separam a eleição de Lugo e de Cartes não houve uma reviravolta ideológica na opinião pública. Os paraguaios continuam como estavam há cinco anos: cansados dos políticos e de seus grupos. No centro dessa exaustão está a corrupção endêmica, que afeta o seu dia a dia, e que – os paraguaios adquiriram consciência disso – impede o desenvolvimento do país.

Há cinco anos, Lugo pareceu um homem simples e moralmente reto, que governaria em favor dos interesses da maioria. Ele continua sendo visto assim por muitos paraguaios. Mas as mudanças na qualidade de vida e nas oportunidades não vieram no ritmo e profundidade esperados.

 Os paraguaios sabem que Cartes, acusado de contrabando de cigarros para o Brasil e de lavagem de dinheiro, não é um “santo”. Mas, perguntam eles, quem é? O fato de Cartes já ser rico desperta nos eleitores a esperança de que ele, afinal, “não precise roubar”. Como empresário bem sucedido, talvez saiba gerir com resultados, imaginam. A sucessão de frustrações ensinou os paraguaios a dosar suas expectativas.

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