Colorados saem às ruas para comemorar vitória

Lourival Sant’Anna – 11/5/1998
ASSUNÇÃO – Como têm feito há cinco décadas, os colorados saíram às ruas mais uma vez ontem para festejar a vitória de seu candidato.

Segundo contagem extra-oficial ontem à noite, de 360 mil votos, o candidato colorado à presidência do Paraguai, Raúl Cubas, ia na frente, com 53%, enquanto seu principal rival, Domingo Laíno, da Aliança Democrática, tinha 44%. Estavam habilitados a votar 2 milhões de paraguaios e o comparecimento foi estimado em 85%. Uma projeção feita pela organização não-governmaental Sakã previu um resultado final de 50% a 40%. Entretanto, a Justiça Eleitoral anunciou no início da madrugada que atas eleitorais foram adulteradas e, por isso, a

Aliança prometeu recorrer em todas as instâncias.

Os colorados começaram a festejar maciçamente logo depois das 17h (18h em Brasília), quando, pela lei, os dois grandes pools formados por meios de comunicação puderam divulgar os resultados das pesquisas de boca-de-urna.

Ambos davam vitória a Cubas, por uma margem de 4 a 6 pontos porcentuais, mas mais de 17% dos consultados se negaram a responder às pesquisas. A Avenida 25 de Mayo, uma das principais de Assunção e onde fica a sede do Partido Colorado, foi logo tomada por carros com as tradicionais bandeiras vermelhas.

Durante todo o dia havia reinado um nervosismo em Assunção, sobretudo entre os oposicionistas, quanto à possibilidade de os colorados saírem às ruas para fazer valer sua vitória a qualquer custo, numa disputa que se prenunciava acirrada. Finalmente, quando os colorados tomaram as ruas, foi para comemorar. A votação foi tranqüila em todo o país, das 7h às 16h30.

Ao meio-dia, Cubas visitou Oviedo, preso há cinco meses na 1.ª Divisão da Infantaria, em Assunção. Por ordem do presidente Juan Carlos Wasmosy, somente Cubas, a mulher e os filhos de Oviedo podem visitá-lo. Na saída, Cubas reafirmou o compromisso de obter a liberdade de Oviedo. Mas, ao contrário do que dissera antes, afirmou que não pretendia indultar o general. “Indulto se dá para alguém que tenha cometido um crime”, argumentou Cubas. “Vamos buscar justiça para o general.” Oviedo foi condenado a 10 anos de prisão, sob acusação de tentativa de golpe em abril de 1996, por um tribunal militar extraordinário criado pelo presidente, depois de vencer as prévias do Partido Colorado, em setembro. Cubas, que era vice de Oviedo na chapa colorada, tornou-se candidato há apenas três semanas, quando a Corte Suprema confirmou a condenação e o general se tornou inelegível.

Indagado pelo Estado se Oviedo manifestou preferência por algum cargo em seu eventual governo, Cubas respondeu, com um sorriso: “Primeiro, ele vai descansar um pouco.” Falando excelente português, Cubas, de 54 anos, que se formou engenheiro eletricista pela PUC do Rio, em 1967, reiterou a disposição de obter, no Mercosul, assistência econômica especial para o Paraguai, como o país mais pobre do bloco.

 

À noite, já na festa do Partido Colorado, Cubas, apresentado como “o novo presidente da República”, lembrou de novo Oviedo, “um correligionário que não pôde estar conosco, mas que seguiu trabalhando”. Os colorados que lotavam a sede do partido bradavam “Lino O”, o grito mais ouvido nas ruas. O prédio, que estivera deserto no sábado (ler abaixo), foi conquistado ontem pelos oviedistas. Pouco antes das 21h, Wasmosy saiu à porta de sua residência para dizer que, como senador (eleito), apoiará o governo de Cubas, e que estava feliz pela consolidação da democracia.

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