Elite paraguaia diverge de Cubas

ASSUNÇÃO – A promessa de tirar o general Lino César Oviedo da prisão, na qual se baseou a campanha do presidente eleito no domingo, Raúl Cubas, não atraiu o voto dos chamados formadores de opinião paraguaios.

 

Essa é a conclusão que se pode tirar de uma pesquisa publicada pelo jornal El Día, especializado em economia e negócios.

Dos entrevistados pelo instituto Sondeo 100, 65% disseram que não seria pertinente o indulto ao ex-comandante do Exército, condenado a 10 anos de cadeia por tentativa de golpe. Apenas 27% consideram o indulto presidencial pertinente e 8% não sabem. À pergunta “é importante que Oviedo fique em liberdade?”, 72% responderam que “não” e 28%, que “sim”.

O instituto perguntou também: “Acredita que Cubas possa governar com Oviedo?”, ao que 48% responderam “dificilmente”, 38% que “pode ser” e apenas 14% que “seria melhor”. Pairam outras dúvidas sobre o futuro governo. O vice-presidente eleito, Luis María Argaña, arquiinimigo de Oviedo, e seus liderados apoiariam o indulto? O “sim” obteve 36%, mas 35% disseram que “não lhes convém” e 29%, que “não apoiariam”.

Oviedo e o presidente Juan Carlos Wasmosy, do qual fora o braço direito, também se tornaram arquiinimigos, a partir de uma nebulosa crise militar, em abril de 1996. Em setembro do ano passado, Oviedo venceu as internas coloradas, mas não levou, porque foi condenado, por insubordinação, por um tribunal militar improvisado por Wasmosy.

É importante ressaltar que 77% dos entrevistados têm formação universitária, o que não corresponde à realidade do Paraguai. De qualquer forma, o levantamento demonstra que a promessa de Cubas de tirar o popular Oviedo da prisão não é a única explicação para a espetacular vitória colorada. Uma frase que não sai da cabeça dos analistas políticos em Assunção foi dita por Argaña, durante a campanha: “Os colorados sempre acabam votando no candidato colorado, nem que seja o Pato Donald.” O cruzamento dos dados da Justiça Eleitoral com as listas de filiados do Partido Colorado, por seção eleitoral, mostra que, apesar das divisões na cúpula, o 1 milhão de colorados (metade dos eleitores paraguaios) votou maciçamente em Cubas, que venceu o liberal Domingo Laíno por 54% a 42,5%. O partido conquistou também maioria absoluta na Câmara e no Senado e elegeu 13 dos 17 governadores departamentais – nas primeiras eleições gerais verdadeiramente democráticas.

 

Além da fidelidade colorada, muitos apontam a debilidade da chapa opositora, da Aliança Democrática. Em Assunção, é comum ouvir os não-colorados suspirarem: “Se, em vez de Laíno, fosse Guillermo Caballero Vargas (do Partido Encontro Nacional) e, em vez de Carlos Filizzola (candidato a vice, também do PEN), fosse (o liberal) Tito Saguier, a liança teria vencido.” A oposição tem mais cinco anos para pensar como tirar os colorados do poder, lá confortavelmente instalados há cinco décadas.

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