Toledo anuncia gabinete alinhado com mercado

Escolha de ministros revela preocupação em manter boas relações com comunidade internacional; presidente do Conselho de Ministros tem bom trânsito em Washington

 

LIMA — O presidente eleito Alejandro Toledo quebrou ontem finalmente o suspense e anunciou a composição do futuro gabinete, a dois dias de sua posse, que ocorrerá amanhã. As escolhas de Toledo revelam forte preocupação em manter boas relações com a comunidade internacional, sobretudo financeira. Para o principal cargo, o de presidente do Conselho de Ministros, Toledo nomeou Roberto Dañino, que há dez anos mora em Washington, onde tem um escritório de lobby e advocacia.

Na entrevista coletiva em que anunciou os nomes, ontem, no elegante hotel Country Club de Lima, Toledo lembrou que Dañino acompanhou de perto as conversações que manteve com a direção do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, já como presidente eleito. Para o Ministério da Economia, Toledo confirmou o nome de Pedro Pablo Kuczynski, que, como ex-assessor do governo de Fernando Belaúnde Terry (1980-85) e do FMI, também é conhecido e bem visto pelo mercado internacional.

Toledo reafirmou seu compromisso com a “responsabilidade fiscal e monetária”, defendendo uma “economia de mercado com rosto humano”.

Em outras palavras, o presidente eleito, doutor em economia pela Universidade da Califórnia em Stanford, explicou que seu governo “não vai gastar mais do que a receita”, mas, com a gestão equilibrada da economia, encontrará recursos para “investir nos pobres, em educação, saúde e emprego”.

O “x” dessa equação são os investimentos e a ajuda internacionais.

Toledo anunciou para o fim de setembro a realização de uma “conferência de doadores encabeçada pela Espanha e a França”, na qual pretende arrecadar US$ 500 milhões em “cooperação internacional não reembolsável”, para destinar a um programa emergencial de criação de empregos e de combate à pobreza.

O presidente eleito repetiu a previsão feita em campanha, de que dentro de 12 a 16 meses já se perceberá o aumento da produtividade e a criação de postos de trabalho – sem comentar a contradição entre um pressuposto e o outro: quanto maior a produtividade, menor a necessidade de trabalhadores.

Sua aposta, aqui, é a reativação da economia, que deve ter seus primeiros resultados em cem dias. Mas alertou que a nova equipe econômica vai avaliar se a crise argentina pode afetar o Peru.

Para o Ministério das Relações Exteriores, foi confirmado Diego García Sayán, atual ministro da Justiça, cujo pai também foi chanceler, e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O novo ministro da Defesa será o segundo-vice-presidente eleito, David Waissman. Já o primeiro-vice-presidente eleito, Raúl Diez Canseco, ficará com o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo.

“Os vice-presidentes não serão decorativos e os ministros não serão secretários”, disse Toledo, numa referência à falta de autonomia dos auxiliares do ex-presidente Alberto Fujimori, que para tudo tinham de consultar antes o ex-chefe de espionagem Vladimiro Montesinos, hoje preso por corrupção.

Mas o anúncio que causou mais sensação foi a nomeação para o Ministério da Justiça do congressista Fernando Olivera, que comprou a primeira de uma série de fitas de vídeo com as reuniões de Montesinos para o acerto de negociatas e propinas.

Olivera, candidato a presidente no primeiro turno, e que apoiou Toledo no segundo, é inimigo do também candidato Alan García, o que indica o afastamento de seu Partido Aprista do governo. “Sessenta por cento do gabinete não pertence ao Peru Possível”, disse Toledo, referindo-se a seu partido. “Estamos de braços abertos para a concertação e o diálogo e para dar governabilidade ao Peru, e os critérios foram o profissionalismo e a moral.”

 

O presidente Fernando Henrique Cardoso desembarca hoje às 12h30 em Lima (14h30 em Brasília), onde se reunirá com empresários e com os outros três presidentes do Mercosul. Amanhã, assiste à posse às 11h no Congresso, almoça no Palácio do Governo com os demais presidentes, participa de uma cerimônia de plantio de árvores no “Jardim da Democracia”, no parque central de Lima, e volta às 17h30 para Brasília.

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