Toledo é o novo presidente peruano

 

LIMA — Depois de enfrentar duas eleições no espaço de pouco mais de um ano, Alejandro Toledo foi finalmente eleito ontem presidente do Peru.

Computados 70% dos votos, Toledo tinha 51,65% dos votos válidos e Alan García, os restantes 48,35%. Já segundo projeção da organização internacional Transparência, Toledo venceu com 53% dos votos válidos.

“Estimo que essa tendência não vai se reverter, portanto estendo a Alejandro Toledo minha saudação”, declarou García às 20h locais (22h em Brasília). “Não entro na oposição”, acrescentou, prometendo ser um “fiel colaborador” do governo, para a “reconstrução econômica, social e institucional” do país, sem pedir em troca nenhum cargo no governo.

Roubando a cena, enquanto Toledo demorava para fazer seu pronunciamento, García observou que teve 5,5 milhões de votos. “Isso representa a imensa reparação moral com que sonhei”, acrescentou García, que se exilou na Colômbia há nove anos, sob acusação de corrupção em seu governo (1985-90), e voltou em janeiro para disputar a eleição.

“Chegamos finalmente ao momento em que o voto do povo elege seu presidente”, sentenciou Toledo, ao agradecer pelos cerca de 6,5 milhões de votos, em pronunciamento que começou às 21h30 locais, com o virtual presidente eleito tentando entoar, com a voz rouca, o hino nacional, junto com a multidão. Cerca de 10 mil pessoas se reuniram em frente ao Hotel Sheraton, no centro de Lima. “Prometo que nunca te decepcionarei”, prometeu.

“Estendo minha mão para os membros das Forças Armadas e da Polícia”, disse Toledo. “Quero que saibam que sei separar o joio do trigo”, acrescentou, referindo-se ao envolvimento de oficiais na corrupção durante o governo de Alberto Fujimori.

Toledo, que durante a campanha atacou duramente o governo de García, adotou ontem um discurso em favor da reconciliação nacional. “Se for eleito, amanhã mesmo vou bater na porta dos outros candidatos”, assegurou, pela manhã. O partido de Toledo, Peru Possível, elegeu 45 deputados e articulou nas últimas semanas o apoio de outros 19, no Congresso unicameral de 120 cadeiras.

A democrata-cristã Lourdes Flores, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, dia 8 de abril, disse que a Unidade Nacional, por ela liderada, com 17 deputados, se manterá como uma força política independente. “Eleito o governo e formada sua maioria parlamentar, o problema da governabilidade está resolvido”, disse Lourdes. “Se o governo fizer as coisas bem, essa força o ajudará e, se errar, ela o fará ver seus erros.”

O dia do candidato começou com um café da manhã no orfanato Lar de Cristo, no bairro pobre de San Miguel. “Venho com freqüência aqui, porque recorda minha infância”, disse Toledo, de 55 anos, que nasceu numa família pobre e foi estudar nos Estados Unidos graças a uma bolsa. “Eu era como eles aos cinco, seis anos”, emocionou-se. “Se formos governo, impulsionaremos projetos como este.”

O candidato perdeu votos na campanha do ano passado, ao criticar os programas assistencialistas de Fujimori. Este ano, reformulou o discurso, dizendo que os manteria, mas, também, “ensinaria a pescar”, oferecendo capacitação profissional e educação pública. Toledo também aproveitou o café da manhã para exorcizar a imagem de ateu, rezando antes da refeição e encaixando o nome de Deus em suas declarações. “Esperemos com tranqüilidade e serenidade a voz do povo, que é a voz de Deus”, repetia ele.

A vitória de Toledo deve tranqüilizar a comunidade financeira internacional. Durante seu governo, García, do tradicional Partido Aprista, de esquerda, decretou moratória, estatizou os bancos e nacionalizou empresas estrangeiras, num governo marcado pela hiperinflação, o desabastecimento e a explosão do terrorismo do Sendero Luminoso.

Já Toledo, doutor em economia pela Universidade da Califórnia em Stanford, mostra-se comprometido com as leis de mercado e os princípios da estabilidade monetária. O formulador de seu programa econômico e possível ministro da Fazenda, Pedro Pablo Kucinski, que integrou, no início dos anos 80, o gabinete de Fernando Belaúnde Terry, é conhecido por suas convicções liberais e ortodoxas.

 

“Apesar de sua ligação com o passado pré-hispânico, Toledo é um homem absolutamente moderno e cosmopolita e tem uma equipe muito bem preparada”, disse ontem o escritor Mario Vargas-Llosa, candidato derrotado por Alberto Fujimori em 1990. “Kucinski e outros membros da equipe de Toledo são muito capacitados.”

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